Título: BC faz novos leilões de dólar e moeda cai 3,6%
Autor: Frisch, Felipe
Fonte: O Globo, 10/10/2008, Economia, p. 28

Bolsa de São Paulo chega a subir, mas fecha em queda de 3,92%, com contágio do mercado americano e da GM.

RIO e SÃO PAULO. O Banco Central (BC) fez ontem mais três intervenções no mercado de câmbio e conseguiu conter, pelo segundo dia, a alta da moeda americana. Com a venda de US$411 milhões à vista e US$911 milhões em swaps cambiais (em que o BC vende a variação do dólar e recebe uma taxa de juros combinada), o dólar fechou o dia em queda de 3,60%, a R$2,198. Já a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) chegou a subir 4,88% pela manhã e cair 4,56% à tarde, fechando com desvalorização de 3,92%, aos 37.080 pontos.

No início da tarde, o BC ofereceu 34.700 contratos de swap cambial, dos quais apenas 18.650 contratos foram vendidos, fortalecendo a tese de que não há demanda por dólares, mas uma pressão especulativa pela alta da moeda. Já os leilões de dólar à vista somaram US$247 milhões pela manhã e US$164 milhões à tarde.

Desde que o BC voltou a intervir no mercado de câmbio, em 19 de setembro, já vendeu aproximadamente US$7,224 bilhões, sendo US$1,7 bilhão com compromisso de recompra, US$3,584 bilhões em swaps cambiais e US$1,940 bilhão vendidos à vista, reduzindo as reservas cambiais do país. Mesmo assim, de lá para cá, a moeda americana ainda acumula alta de 13,88%.

- O BC não pode fazer leilão sem ter demanda efetiva por moeda. Ele não pode insinuar que quer ajudar quem está perdendo com a alta do dólar- avalia o diretor-executivo da NGO Corretora, Sidnei Nehme.

Dólar é moeda que mais se desvalorizou no ano

Ele lembra o caso dos bancos Marka e FonteCindam, em 1999, quando o BC vendeu dólares mais baratos, em meio à maxidesvalorização cambial. Para Nehme, se os investidores do câmbio (empresas e instituições financeiras) acreditassem que a cotação do dólar se manterá alta, comprariam integralmente os dólares do BC nos leilões pelas cotações acima de R$2.

O gerente de câmbio do Banco Prosper, Jorge Knauer, avalia que o dia começou calmo com as novidades do pacote de socorro do governo dos Estados Unidos, de que o Tesouro poderá adquirir participações em bancos em dificuldade.

Pesquisa da Economática mostra que o real foi a moeda que mais se desvalorizou no ano, comparada a uma cesta com outros sete países latinos e a zona do euro. Em 2008, o real já se desvalorizou 18,8% até ontem, contra 18,5% do Chile e 13,4% da moeda da Colômbia. Já entre 1º de agosto até ontem, o real acumula desvalorização de 28,5%, mais que Colômbia (22,6%) e México (19,9%).

Patricia Branco, sócia da gestora de recursos Global Equity, lembra que os investidores gostaram das novas medidas anunciadas pelo Tesouro. A Bolsa esteve em alta até as 15h30m, quando começou a ser contaminada pela piora significativa do humor em Wall Street, após a divulgação da possibilidade de rebaixamento da nota de crédito da GM. Para Patricia, uma recuperação só deve começar a ser vista daqui a seis meses.

Uma exceção de alta entre as ações brasileiras no dia foi das ações da ALL, que subiram 10,76%, com um anúncio preliminar dos resultados do terceiro trimestre feito pela empresa, informando que sua receita cresceu 17% no ano até setembro, para R$2 bilhões.

Ações preferenciais da Vale chegaram a ter recuperação expressiva, de 6,35%, após a divulgação de análise do UBS ratificando a recomendação de compra para os papéis, em queda de 58,17% desde o pico, em maio. Mas a ação não resistiu à reversão de humor e fechou em queda de 4,84%, a R$24,55. Os papéis da Petrobras chegaram a subir 6,74% e fecharam em queda de 3,07%.

A queda da Bolsa ontem foi a sexta consecutiva. No mês, que só teve um dia de alta, a Bovespa já acumula queda de 25,15%. No ano, recua 41,96%. Também favoreceu a queda ontem o fim do período de proibição da venda de ações a descoberto nos EUA, além de muitos investidores querendo garantir, no dia, os ganhos de curto prazo.

COLABOROU Aguinaldo Novo

oglobo.com.br/economia