Título: Estou ajudando não apenas ao governo
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Fonte: O Globo, 18/10/2008, O País, p. 14

Fortalecido com as vitórias do PMDB, ministro da Integração trabalha para ser o novo líder político da Bahia.

Na Bahia, a constatação de que o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, age para ocupar o espaço político deixado pelo ex-senador Antônio Carlos Magalhães é traduzida num comentário: "Geddel é terrível , vai fazer tudo para ser ACM". Geddel jura que só deseja servir à Bahia e ao Brasil - como dizia ACM - e que não tem perfil para ser um novo "painho". Mas trabalha para ser o líder do maior grupo político do estado, desbancando o PT. Afirma que chegou onde chegou por seu mérito, que não deve nada ao governo Lula ou ao PT. De corpo, alma e o peso da máquina de sua pasta a favor da candidatura do neopeemedebista João Henrique em Salvador, ele afirma que não vai perder a guerra para o governador Jaques Wagner, que apóia Walter Pinheiro (PT). Geddel diz que defenderá a aliança com o PT, mas não tem compromisso para a sucessão presidencial de 2010.

Maria Lima

O PMDB conseguiu neutralizar o apoio do governo e do presidente Lula ao candidato petista Walter Pinheiro...

GEDDEL VIEIRA LIMA: O PMDB faz parte da sustentação do presidente Lula. Nosso candidato é também candidato do presidente Lula naquilo que interessa.

O presidente Lula mostra mais simpatia pelo prefeito João Henrique do que por Pinheiro?

GEDDEL: O presidente Lula é um homem de Estado. Na medida em que deixa de participar das disputas locais, sinaliza que quer preservar relações entre partidos da base. Essa sinalização de simpatia pelo prefeito João Henrique, que vejo atribuírem a Lula, é o reconhecimento de que ele foi o primeiro prefeito em 2005 (na crise do mensalão) a lançar a recandidatura do presidente e manifestar seu apoio.

O presidente tem receio de se indispor com o PMDB, que saiu mais fortalecido das urnas?

GEDDEL: A força do PMDB que sai das urnas não pode ser usada contra ninguém. Somos aliados. Repito um mantra da minha vida: não gosto de aliado fraco. Não tenho receio do crescimento de aliados nem de aliados competentes. Se o seu aliado está forte, você também está forte. O presidente Lula tem noção de que, com o PMDB fortalecido, ele está fortalecido.

O PMDB pode reivindicar ser cabeça numa aliança defendida por Lula?

GEDDEL: Vou advogar firmemente para que mantenhamos a aliança em torno do projeto capitaneado pelo presidente Lula. Não vejo razão para romper esse ciclo que tem dado resultados para o Brasil de forma consistente na área econômica, com maturidade política.

O presidente aceitaria substituir a ministra Dilma Rousseff, se ela não se mostrar viável, e apoiar um nome do PMDB?

GEDDEL: É absolutamente natural discutir a viabilidade das candidaturas. Num país confederado, onde existem interesses regionais, não existe atrelamento automático. Haveremos de nos sentar para discutir com segurança parcerias e viabilidades. Lula é um homem da política. As dificuldades existem para ser superadas.

Se Dilma não se viabilizar e o PMDB tiver um nome mais forte, vocês vão defendê-lo?

GEDDEL: Sim, mas imagina: que capacidade temos de prever o que vai acontecer daqui a dois anos? Há clara intenção do PMDB de marchar com Lula, que quer o PMDB como seu parceiro preferencial. De que forma vai se dar essa parceria, vamos esperar chegar 2010.

É mais fácil o alinhamento com o PT nacional do que em Salvador em 2010?

GEDDEL: Poderíamos ter construído uma aliança que, por ter dado certo para o governo em 2006, envolvesse a capital em 2008, sinalizando relacionamento harmônico para 2010. Na medida em que o PT rompeu o entendimento e lançou candidatura de confronto, teve conseqüência: não existe atrelamento automático para 2010.

Para o PT, a prefeitura na Bahia é estratégica. O senhor está jogando tudo na eleição?

GEDDEL: Não, estou numa eleição, não numa guerra. É claro que vou jogar tudo, porque acho que a administração dele é boa, que o prefeito é experiente. Agora, eleição é ganhar ou perder. Se ganhar, comemora-se e governa-se. Se perder, aplaude-se quem venceu.

O senhor foi alvo de grampos ordenados pelo senador Antonio Carlos Magalhães, que fez o vídeo "Geddel vai às compras" (com denúncias de enriquecimento ilícito). Foi difícil esquecer e compor com ACM Neto?

GEDDEL: Tive com ele (o senador, já falecido) lutas duríssimas. Antonio Carlos vinha me perseguindo e tentando me atingir, em minha honra e de minha família. Encontrei instrumentos para resistir. Mas meu problema era com Antonio Carlos. Eu dizia que era uma briga que só terminaria quando o Criador chamasse um dos dois. Terminou. Não tenho que transferir para seus descendentes nenhum tipo de relação de amor ou ódio cultivada quando ele estava vivo. Tenho divergências com o DEM na Bahia, mas a política do estado, com o desaparecimento do senador, deixou de ter o caráter maniqueísta do bem contra o mal. As alianças passam a ser discutidas à luz do dia, não em cafuas e pés de escadas.

ACM Neto, apesar da derrota, saiu com grande cacife. Quem tem mais perfil para o novo "painho" da Bahia?

GEDDEL: Repilo a tentativa de me comparar a Antonio Carlos, que morreu e deve ser analisado pela História. Sou outra pessoa. Sou Geddel Viera Lima, com defeitos e qualidades. Tenho o desejo de servir ao meu estado através da vida pública. ACM é ACM, e eu sou eu, construindo minha própria estrada.

Petistas dizem que o senhor, depois que virou ministro, quer enfrentar o PT.

GEDDEL: Minha postura sempre foi fruto do que as urnas decidiram. Meu partido apoiou Fernando Henrique, lutei no Congresso para dar respaldo a seu governo. Veio a eleição, o meu partido lançou candidato a vice na chapa de José Serra. As urnas no estado disseram: fique na oposição. Fiquei. Minha história não conta com o termo adesão. Nunca aderi a nenhum governo. Os espaços que consegui ao longo da minha vida nunca foram conquistados como favor de quem quer que seja.

Então está prestando um serviço ao governo, não está devendo favor ao PT?

GEDDEL: Estou ajudando não só ao governo. Estou dando minha modesta contribuição ao país e ao meu estado na função que o presidente Lula, que, vendo em mim alguém que conquistou seus espaços, convidou para servir ao Brasil como ministro da Integração Nacional.

O senhor ajudou com verbas a prefeitura de Salvador.

GEDDEL: Queria ter ajudado mais. Ajudei como ministro da Bahia, fazendo a ponte entre o prefeito e o governo federal. Buscando recursos em ministérios, conversando com o presidente. Lutando para que a terceira maior capital do país tenha o que merece. Minha luta vai ser, com a eleição de João Henrique, que Salvador bata os recordes e seja a capital que mais receba recursos. Isso me engrandece, não me apequena.