Título: Agências correm contra o tempo e alteram avaliação
Autor: Melo, Liana
Fonte: O Globo, 18/10/2008, Economia, p. 34

Mas, para analistas, rebaixamentos deveriam ter acontecido antes da crise.

Em um ano, a capacidade de pagamento de dívidas das empresas mundo afora piorou. E o risco de calote cresceu. Prova disso é a reviravolta das notas concedidas pelas principais agências internacionais de classificação de risco - Moody"s, Standard&Poor"s (S&P) e Fitch -, conhecidas como ratings. Essas avaliações balizam decisões de investimentos: fundos poderosos do exterior, por exemplo, têm como regra aplicar apenas em títulos de países ou companhias com boa nota.

Antes de a crise ganhar força, em 2007, as agências anunciavam mais elevações de notas que rebaixamentos. Hoje, a situação é inversa. Na Moody"s, entre janeiro e setembro deste ano foram 383 elevações (upgrades, na sigla em inglês), e 1.010 rebaixamentos (downgrades). No mesmo período do ano passado, foram 563 e 527, respectivamente. Na Fitch, do primeiro semestre de 2007 para o mesmo período deste ano, o número de upgrades caiu 63,5% (de 206 para 131) e o de downgrades subiu 116% (de 117 para 253).

No Brasil, os rebaixamentos aumentaram apenas nas últimas semanas. Segundo a Moody"s, desde agosto de 2007, 64 empresas tiveram upgrades, e oito, downgrades, sendo metade a partir de agosto.

Para especialistas, o quadro pode piorar: as exportadoras de commodities podem ter suas notas rebaixadas, com a queda do valor das matérias-primas comprometendo sua geração de caixa. Os bancos também sairão prejudicados, com a falta de liquidez no mercado.

Para Rubens Penha Cysne, professor da Escola de Pós-Graduação em Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV), os rebaixamentos deveriam ter começado quando os juros americanos começaram a subir e a prejudicar o pagamento das hipotecas de alto risco (subprime).

- Qualitativamente, as agências fizeram um papel interessante. Mas, de forma quantitativa, o resultado ficou a desejar. A elevação de ratings antes da crise reflete a falta de precisão.