Título: Pé no freio em exportações e investimentos
Autor:
Fonte: O Globo, 18/10/2008, Economia, p. 40

Governos tentam blindar seus países contra efeitos da turbulência que está abalando mercados internacionais.

Depois dos abalos provocados por crises nossas - como as do México (1994/95), Brasil (1999, pós-maxidesvalorização do real, e 2001/2002, com o racionamento de energia e a disparada do dólar às vésperas das eleições) e Argentina (2001) -, a América Latina agora começa a amargar os efeitos da crise financeira global. Isso após um período de bonança nos últimos cinco anos. Com o epicentro nos EUA e fortes conexões na Europa, o vendaval que sacode os mercados já está atingindo investimentos na região, os preços dos produtos exportados e expectativas de crescimento... apesar dos esforços dos governos para blindar os países dos efeitos da turbulência. É o que mostra o Grupo de Diarios América (GDA), do qual O GLOBO faz parte, reunindo reportagens dos principais jornais do continente.

Petróleo afeta economia da Venezuela

Importações de produtos são financiadas com recursos da "commodity"

Blanca Vera Azaf

CARACAS. Inicialmente o governo de Hugo Chávez garantiu que o caos financeiro não afetaria o país, mas a queda dos preços do petróleo, justamente por causa da crise global, o obrigou a reconhecer a necessidade de um plano de austeridade diante da desaceleração da cesta de preços do petróleo venezuelano, que passou de US$126 por barril, em 14 de julho, para US$81,70, em 10 de outubro, uma queda de 35,15%, de acordo com dados do Ministério de Energia e Petróleo. Estes sinais evidenciaram a grande vulnerabilidade do país: a falta de diversificação no setor comercial, pois apenas se vende ouro negro.

A venda de petróleo representa 94% das exportações totais feitas pela Venezuela, e mais da metade do orçamento público dessa nação é financiado através da venda do produto. Dos EUA provêm 80% dos produtos importados, que consomem 60% dos recursos obtidos com o petróleo. A isso se soma o fato de que o plano de segurança alimentar elaborado pelo governo - cujo objetivo é fazer com que a Venezuela se torne auto-suficiente - paradoxalmente se sustentou com compras no exterior.

Considerando as cifras da balança de pagamentos registrada pelo Banco Central da Venezuela, o economista José Guerra calcula que, a cada dólar de queda nos preços do petróleo, o país deixe de receber US$960 milhões. Para cumprir suas necessidades, a nação precisa, em média, de um mínimo de US$35 bilhões, mas, se o preço do petróleo cai a US$70 o barril, as contas não fecham.

A falta de investimento estrangeiro na Venezuela, devido ao alto risco do país e à confrontação política, terá um peso maior entre as conseqüências negativas para a economia. O Conselho de Economia Nacional alertou recentemente que um ambiente sem mecanismos formais de promoção de investimentos poderá afetar a oferta interna de produtos, com risco de escassez e racionamento de produtos, caso as importações sejam afetadas.