Título: Emergência sem médicos
Autor: Berta, Ruben; Britto, Thaís
Fonte: O Globo, 20/10/2008, Rio, p. 8

Por falta de clínicos, Hospital Miguel Couto manda pacientes para outras unidades.

Aemergência do Hospital municipal Miguel Couto, a maior da Zona Sul da cidade, ficou fechada durante quase todo o dia de ontem, devido à falta de médicos. Segundo funcionários do hospital, nenhum clínico geral compareceu ao plantão. Pela manhã, foi afixado na entrada da unidade um cartaz - assinado pelo chefe da equipe de plantão, Eduardo de Paula Vieira - informando sobre o fechamento da emergência (clínica médica). O aviso era para que somente de casos de risco de vida fossem atendidos. Os demais pacientes foram orientados a procurar outras três unidades: Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Botafogo; Hospital municipal Lourenço Jorge, na Barra; e Hospital municipal Souza Aguiar, no Centro.

Por volta das 21h, os pacientes que aguardavam - alguns, há seis horas - começaram a fazer a ficha para ser atendidos. Leonir do Nascimento chegou por volta das 15h à unidade com o filho, que passava mal. Às 20h, ela ainda aguardava na sala de espera, sem saber o que fazer:

- Disseram que não tem médico, mas que ele pode chegar. A gente fica esperando sem saber o que fazer. Eles poderiam falar de uma vez que não seremos atendidos, para eu poder ir embora.

A mãe do pintor de automóveis Júlio Cesar Baroni foi uma das poucas que conseguiram atendimento durante a tarde: estava sofrendo um infarto. Mas Júlio não foi autorizado a acompanhá-la durante o atendimento, apesar de a mãe ter mais de 65 anos:

- Não querem deixar a gente ver que, lá dentro, está um caos. Estou do lado de fora esperando e vejo que tem gente aqui desde cedo. Eles dizem que o médico está chegando. Mas o médico tem que estar no hospital já.

As explicações sobre a falta dos médicos foram contraditórias. Segundo o site G1, o chefe da equipe médica de plantão, Eduardo de Paula Vieira, teria afirmado que três cooperativados, que faziam parte da equipe de clínicos, pediram demissão nos últimos dias. O motivo teria sido o atraso de pagamento de salários. Já a Secretaria municipal de Saúde alegou ao site que o problema foi causado pela falta de dois clínicos ao plantão.

Prefeito admite as dificuldades

Até as 21h, apenas a ortopedia, a pediatria e a maternidade funcionavam. Cerca de meia hora antes, um funcionário anunciou que seria feita uma triagem, e que os casos menos graves seriam encaminhados à UPA de Botafogo. Houve muitas reclamações.

- Estou aqui há mais de uma hora e não tem médico. Quando cheguei, disseram que estavam esperando a troca do plantão. Mas isso não dura uma hora - lamentava o pedreiro Luiz Ribeiro, ao lado da mulher, Cássia Balbino.

A assessoria de imprensa da Secretaria estadual de Saúde - que administra a UPA de Botafogo, para onde parte dos pacientes recusados foram encaminhados - informou que o município comunicou a falta desses profissionais. O prefeito Cesar Maia afirmou que a prefeitura vai averiguar o caso do Miguel Couto, para avaliar se os profissionais envolvidos sofrerão alguma sanção. Ele admitiu que o município vem enfrentando dificuldades para contratar profissionais em algumas especialidades:

--- Os problemas de manutenção de médicos em certas especialidades estão se tornando graves. Os concursos não estão suprindo. Criamos um grupo de trabalho para ver como propor uma revisão de critérios remuneratórios, de forma a aumentar a atratividade do setor público.

O presidente da Comissão de Saúde da Câmara de Vereadores, Carlos Eduardo (PSB), afirmou que a falta de clínicos durante plantões de fim de semana no Miguel Couto é um problema antigo. Ele disse que já denunciou o problema ao Ministério Público:

--- Há pelo menos dois anos, o Miguel Couto não trabalha aos domingos com a quantidade mínima de seis clínicos gerais estabelecida pela resolução número 100 do Cremerj. Contam com a sorte.