Título: Crise fez avanço do PIB chinês cair para 9%, a menor taxa em 5 anos
Autor: Scofield Jr., Gilberto
Fonte: O Globo, 21/10/2008, Economia, p. 22

Governo muda de estratégia e prepara pacote para conter efeitos da crise.

PEQUIM. O agravamento da crise financeira mundial e o desaquecimento nos mercados americano e europeu atingiram em cheio as exportações da China, desacelerando o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país). Segundo o Escritório Nacional de Estatísticas (ENE), a economia chinesa cresceu 9% no terceiro trimestre. Foi a menor taxa dos últimos cinco anos - desde que a epidemia de SARS praticamente paralisou o país, em 2003 - e o quinto trimestre seguido de queda na atividade.

A economia chinesa havia crescido 10,6% no primeiro trimestre de 2008 e 10,1% no segundo, já afetada pela crise das hipotecas nos EUA e pelas medidas de controle macroeconômico adotadas por Pequim para evitar o superaquecimento. Com o resultado anunciado ontem, menor do que estimavam os economistas, o crescimento acumulado do PIB chinês no ano chega a 9,9%, deixando mais perto da realidade a previsão do Fundo Monetário Internacional (FMI) de que o país deva crescer 9,7% em 2008. Nos primeiros nove meses de 2007, a China cresceu 11,5%.

Setores exportadores terão restituição de impostos

A siderúrgica chinesa Baosteel foi uma das que já sentiram os efeitos da desaceleração. A empresa reduziu os preços de seus principais produtos para entrega em dezembro em até 20%, em relação a novembro, disse uma fonte à agência de notícias Reuters. E, em setembro, começou a diminuir também o ritmo de produção.

Segundo o porta-voz do ENE, Li Xiaochao, os efeitos da crise no comércio exterior chinês nos últimos meses fizeram o governo mudar sua política de aperto macroeconômico para uma estratégia expansionista da economia, com cortes nos juros básicos, redução do compulsório nos bancos e adoção de políticas fiscais de estímulo a setores industriais.

O primeiro-ministro da China, Wen Jiabao, informou no fim de semana que o governo prepara um pacote de estímulo à economia, que inclui o corte de taxas nas operações de compra e venda de imóveis e a devolução de impostos pagos por exportadores de setores mais afetados, como brinquedos, vestuário e sapatos.

Nos nove primeiros meses do ano, as exportações chinesas somaram US$1,9 trilhão, alta de 22,3%. Ainda assim, 4,8 pontos percentuais abaixo do crescimento de 2007 no mesmo período. As importações foram de US$893 bilhões, aumento de 29,9%.

- A tônica do governo, a partir de agora, será reforçar o consumo doméstico por meio de incentivos fiscais e aumentar os investimentos públicos - diz o professor da Escola de Economia e Administração da Universidade de Tsinghua, Liao Li.

Segundo Pequim, metade das indústrias de brinquedos da China fechou as portas desde o início do ano, em um cenário que conjuga queda nas encomendas de EUA e Europa, aumento dos custos trabalhistas e preços de matérias-primas em alta (que só agora começam a cair, também por causa da crise).

Investimento estrangeiro cresce 40% em 9 meses

De acordo com relatório da Câmara Empresarial Brasil-China, o pacote fiscal chinês é uma quase realidade: "Diferentemente de alguns outros países europeus e dos próprios Estados Unidos, as contas públicas do governo chinês estão em posição bastante confortável. Com uma relação dívida/PIB de quase 16% em 2007 e um superávit fiscal de 0,7% no mesmo ano, o governo chinês apresenta todas as condições de lançar um pacote de estímulo fiscal para manter o crescimento econômico acima dos 8% para os próximos anos".

O consumo doméstico chinês cresceu 22% no acumulado do ano, enquanto a renda per capita nos grandes centros chegou à média de 11.865 yuans (US$1.736). Os investimentos diretos estrangeiros somaram US$74,4 bilhões nos primeiros nove meses do ano, quase 40% acima do valor no mesmo período de 2007. Os investimentos em ativos fixos também continuam altos: US$1,6 trilhão, 27% acima do valor investido ano passado em novas linhas de produção, veículos e equipamentos.

A boa notícia veio no Índice de Preços ao Consumidor, que chegou a 4,6% em setembro, reduzindo a inflação acumulada no ano na China a 7% e abrindo espaço para uma política econômica mais focada no crescimento, ainda que os índices não estejam baixos.

(*) Com agências internacionais

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