Título: Países ricos terão a pior recessão desde 1929
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Fonte: O Globo, 21/10/2008, Economia, p. 24
PIB das sete nações mais desenvolvidas cairá 1,1% em 2009, ante alta de 0,8% este ano, diz Deutsche Bank
Da Bloomberg News
LONDRES. No próximo ano, as economias dos países que integram o G-7 (o grupo que reúne as sete nações mais ricas do mundo) vão sofrer a maior contração desde a Grande Depressão - iniciada com a crise de 1929 -, segundo projeções do Deutsche Bank. A economia do G-7 como um todo vai registrar retração de 1,1% em 2009, depois de crescer 0,8% este ano, de acordo com estudo divulgado ontem pelo banco alemão. O aperto do crédito é apontado como a causa da esperada desaceleração. E o Reino Unido deverá apresentar sua primeira contração desde 1992 no terceiro trimestre deste ano, segundo economistas britânicos.
O aumento dos custos do crédito vai sufocar os gastos dos consumidores e os investimentos corporativos, enquanto a taxa de desemprego subirá, disseram os economistas do Deutsche Bank Peter Hooper e Thomas Mayer, que assinam o informe. "Prevemos agora uma recessão de grandes proporções para a economia mundial no ano que vem", disseram em nota. "Um corte de peso sofrido pelo crédito na economia real do mundo inteiro levou à deterioração das perspectivas. Não prevíamos tamanho choque financeiro desde nossa projeção de 3 de outubro."
Expansão da economia mundial cairá para 1,2%
O G-7 é composto por Estados Unidos, Canadá, Japão, França, Itália, Alemanha e Reino Unido. O Deutsche Bank prevê que o crescimento da economia mundial vai desacelerar dos projetados 3,2% este ano, para 1,2% em 2009, seu ritmo mais lento desde o início da década de 80.
Ainda de acordo com as estimativas, os Estados Unidos vão encolher 1% em 2009. Na projeção anterior, o banco alemão previa estagnação. E a zona do euro sofrerá retração de 1,4%, ante contração de 0,2% estimada no início de outubro. O Japão, por sua vez, terá desaceleração de 1,2%, contrariando a expansão de 0,4% prevista originalmente. As previsões não incluem dados da Segunda Guerra.
Com a recessão mundial e a desaceleração da inflação - de 5,6% em 2008 para 3,1% em 2009 -, o Deutsche prevê que os bancos centrais de EUA, Europa e Japão deverão cortar a taxa de juros, na tentativa de estimular o crescimento da economia. Na avaliação dos economistas, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) vai corta a taxa em 0,5 ponto percentual, do atual 1,5% para 1%, na reunião de 28 e 29 de outubro. Na projeção anterior, o Deutsche estimava que esse patamar seria atingido num período de 12 meses.
Deutsche prevê corte de juros para 3% na Europa
Já o Banco Central Europeu (BCE) deverá reduzir os juros para um recorde de 1,5% nos próximos 12 meses. Hoje, estão em 3,75%. Antes, os economistas apostavam em um recuo da taxa para 3% nesse período. E o BC japonês deverá cortar os juros básicos para 0,25% no início de 2009. Os analistas acreditavam que a taxa seria mantida em 0,5%.
As projeções sombrias do Deutsche para o G-7 devem ser corroboradas pela divulgação de estatísticas oficiais de alguns países europeus. Na próxima sexta-feira, Escritório Nacional de Estatísticas do Reino Unido vai divulgar sua primeira estimativa para o crescimento do país no terceiro trimestre do ano. De acordo com economistas ouvidos pelo jornal britânico "Independent", a economia do país deve recuar 0,2%, o que não era visto desde 1992. Como no segundo trimestre deste ano a economia britânica se manteve estável, pode-se dizer que ela está à beira de uma recessão. E a consultoria Ernst & Young prevê que o país sofrerá retração de 1% em 2009.
- A produção industrial deve ter caído 1,3% no terceiro trimestre - disse Philip Shaw, economista-chefe da consultoria Investec. - E o setor de construção deve recuar mais que a queda de 0,5% do segundo trimestre.
Apesar desse panorama e do elevado endividamento público, o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, insistiu ontem que o governo vai manter seu projeto de sair da recessão por meio de investimentos. Dados oficiais mostraram que endividamento líquido atingiu um recorde de 37,6 bilhões de libras (cerca de US$64 bilhões) entre abril e setembro, superior ao de 2007. A previsão para este ano é de um total de 43 bilhões de libras (US$73,6 bilhões).
(*) Com agências internacionais