Título: Bolsa sobe 8,36%, a segunda maior alta do ano
Autor: Rangel, Juliana
Fonte: O Globo, 21/10/2008, Economia, p. 26

Declarações do presidente do Fed e novos dados econômicos elevam confiança e investidores vão às compras.

RIO e NOVA YORK. Após um fim de semana tranqüilo, sem nenhum anúncio negativo sobre o setor financeiro, investidores voltaram às compras ontem no mundo todo. No Brasil, o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), se manteve em alta durante todo o dia e fechou com ganhos de 8,36%, aos 39.441 pontos - a segunda maior valorização do ano. Nos Estados Unidos, o índice Dow Jones, da Bolsa de Valores de Nova York, subiu 4,7%. O S&P ganhou 4,8%, e o Nasdaq, 3,4%.

A alta do Dow Jones foi a oitava maior da história do indicador. O principal motor foi o discurso do presidente do banco central americano (Fed, o Federal Reserve), Ben Bernanke. Ele falou sobre a necessidade de se lançar um segundo pacote de estímulo econômico para o país. Na Europa, as declarações também tiveram boa repercussão: o índice FTSE, da Bolsa de Londres, subiu 5,41%; o CAC, da França, 3,56%; e, o DAX, de Frankfurt, 1,12%.

Logo depois, foi a vez do Secretário do Tesouro americano, Henry Paulson, dizer que vários bancos já haviam se candidatado para participar do programa de ajuda de US$250 bilhões. O pacote prevê aporte de recursos diretamente nas instituições financeiras.

- As altas foram reflexo da melhora do ambiente - disse Fábio Cardoso, analista da Máxima Asset.

Ações de construtoras e commodities foram destaque

Outro fator que colaborou para a melhora do humor dos investidores foi a divulgação dos indicadores antecedentes do país, pacote de dados que antecipa a evolução da conjuntura para os próximos seis meses. Segundo o Conference Board, instituto privado de pesquisas, a alta foi de 0,3% em setembro, contra queda esperada de 0,1%. Em agosto, o índice havia recuado 0,9%.

No Brasil, o giro financeiro na Bolsa foi de R$4,157 bilhões, descontado o volume negociações com exercício de opções, que venceram ontem.

Para um analista de mercado, que prefere não se identificar, o volume mais baixo evidencia a participação maior de investidores locais.

- O Banco Central do Brasil está bastante ativo, liberando os compulsórios dos bancos. E tudo isso colabora para a perspectiva de que o cenário vai melhorar - avaliou.

Para Fábio Cardoso, os investidores apenas deram continuidade à alta iniciada na sexta-feira. Naquele dia, a Bolsa havia subido mais de 5%, mas acabou recuando 0,11% no fim do pregão.

- Os investidores estavam com medo de novos anúncios no fim de semana. Como ninguém "quebrou", houve espaço para a percepção de que os papéis estão baratos - disse.

Um dos destaques do dia foram as ações preferenciais (PN, sem direito a voto) da Vale, que subiram 12,70%.

Analistas do banco UBS divulgaram relatório dizendo que a venda de 40% da Namisa, pertencente à CSN, para um consórcio asiático, por US$3,12 bilhões, na semana passada, evidenciou o quanto as ações da Vale estão baratas.

Pelo valor da venda, a Namisa valeria US$195 por tonelada de minério de ferro, enquanto a Vale seria avaliada em US$100 por tonelada.

"Vemos mais potencial para o negócio de minério de ferro da Vale", disseram, acrescentando haver uma forte expectativa de recuperação do papel.

As ações PN da Petrobras também tiveram forte ganho, de 10,44%. A empresa anunciou na semana passada que sua produção subiu para 1,89 milhão de barris por dia em setembro. Além disso, os preços do petróleo voltaram a subir, diante da expectativa de um novo corte na oferta da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), que convocou uma reunião extraordinária para a próxima sexta-feira. Em Londres, o Brent subiu 4,9%, para US$73,02 . Nos EUA, o barril do óleo leve americano ganhou 3,34%, fechando a US$74,25. Desde de que atingiram recordes históricos, os valores do barril de petróleo já caíram cerca de 50%.

O setor de construção civil também foi destaque na Bovespa. As ações da Gafisa tiveram a maior alta do índice, com ganhos de 17,57%. As da Cyrela, maior companhia do ramo no país, subiram 11,47% e, as da Rossi, 10,14%.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que o governo poderá injetar R$4 bilhões nas construtoras.

(*) Com agências internacionais

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