Título: BC pode parar de elevar juro básico este mês
Autor: D'Ercole; Ronaldo; Doca, Geralda
Fonte: O Globo, 21/10/2008, Economia, p. 27
Segundo Meirelles, atuação da instituição leva em conta incertezas causadas por turbulência.
SÃO PAULO e BRASÍLIA. O presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, disse ontem que o compromisso principal da atuação do BC continua sendo o regime de metas de inflação, mas indicou que o Comitê de Política Monetária (Copom) pode interromper o ciclo de alta da taxa básica de juros (Selic) na reunião da próxima semana.
- Engana-se quem vê nas medidas adotadas pelo BC (recentemente) uma mudança na sua estratégia de atuação. Temos um compromisso. É com o regime de metas para a inflação. É importante que isso esteja bem claro para a sociedade - disse Meirelles, em discurso durante a posse da nova diretoria da Associação Nacional de Bancos de Investimentos (Anbid). - Evidentemente, a calibragem e o timing de nossa atuação levam em conta o que está ocorrendo na economia, inclusive o que se refere à oferta de crédito e às incertezas trazidas pela crise.
Meirelles disse que medidas recentes, como a redução dos depósitos compulsórios dos bancos, visam a "mitigar o impacto da crise":
- Sem artificialismos, que podem gerar desequilíbrios que encerram riscos consideráveis para a economia, como mostra nossa experiência passada.
Segundo ele, o fortalecimento do mercado de trabalho deve manter a "pujança" da demanda doméstica, sustentando a expansão do PIB nos próximos meses, mas num ritmo mais "modesto".
O presidente do BC informou ainda que a desvalorização do real ante o dólar tem funcionado também com um fator estabilizador na crise, na medida em que, segundo ele, para cada 10% de alta da moeda americana, há uma queda de 1,1 ponto percentual da dívida líquida em relação ao PIB.
- Enquanto isso, as reservas internacionais, os compulsórios e a posição nos mercados futuros dão condições ao BC de enfrentar as turbulências com força e serenidade - disse.
Em entrevista junto com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, no fim da tarde, depois de reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Meirelles anunciou que os bancos oficiais (Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Banco do Nordeste) estão se preparando para aumentar suas participações no mercado de crédito de consumo. E ao BNDES, acrescentou, caberá implementar o crédito voltado aos investimentos.
- As ações para preservar a economia brasileira continuam em andamento.
Lula mostra irritação com crédito ainda restrito
Parte da reunião com o presidente Lula teve como tema o forte enxugamento do crédito. Lula demonstrou irritação com a retenção de empréstimos por parte dos grandes bancos, a despeito do esforço de liberação de recursos pelo BC. Segundo a equipe econômica, as instituições reduziram em 20% o volume de empréstimos.
Ao mesmo tempo, observou-se um aumento do volume de operações no overnight (pelo qual o BC retira dinheiro não utilizado dos bancos em troca de títulos públicos remunerados pela Taxa Selic). Além do enxugamento de recursos para o crédito, os bancos aumentaram os juros praticados e encurtaram os prazos de financiamento oferecidos aos clientes.
Numa alternativa à resistência dos bancos em não repassar os recursos para os empréstimos, o governo pretende aumentar os recursos carimbados para enfrentar a crise. Isso significa, por exemplo, mexer nas exigibilidades, de forma a aumentar a verba destinada ao financiamento agrícola.