Título: Aperto no cinto
Autor: Aggege, Soraya
Fonte: O Globo, 22/10/2008, Economia, p. 19

Lula agora admite que crise pode afetar arrecadação do governo e limitar verbas de ministérios.

Opresidente Luiz Inácio Lula da Silva admitiu ontem que a crise financeira poderá afetar a arrecadação do governo e adiantou que, se isso ocorrer, as verbas dos ministérios serão contingenciadas. Ao baixar o tom otimista que vinha usando ao falar da crise, Lula comentou que, embora tenha sido criticado pelo otimismo, precisa agir assim para não piorar a situação.

- Não posso assumir o compromisso com vocês de que, se houver uma crise econômica que abale o Brasil, a gente vá manter todo o dinheiro dos ministérios. Se a União arrecadar menos, vai haver menos dinheiro para todo mundo - disse Lula, em São Paulo, na Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). - Tem gente que fala que sou muito otimista, que deveria falar com menos otimismo. Não posso. Imagina você ir no hospital visitar um companheiro em fase terminal e dizer: ontem morreu um cara assim, igual a você.

Segundo o relator do Orçamento da União para 2009, senador Delcídio Amaral (PT-MS), há espaço para cortes de cerca de R$12 bilhões. Além dos R$8 bilhões em despesas de custeio, é possível cortar R$4 bilhões em investimentos. Eles viriam de um total de R$39,4 bilhões nesta rubrica, e já preservadas as verbas do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Lula: há um "gostinho pelo papel do Estado"

Lula disse que cuidará para manter as reservas cambiais e o potencial de consumo do mercado interno:

- Por isso que não quero diminuir crédito e tenho dito que ninguém pare de comprar televisão, geladeira. Se não tiver as pessoas comprando não tem fábricas produzindo, comércio vendendo, e entramos mesmo em recessão.

Para Lula, o sistema financeiro nacional lembra a velha brincadeira das cadeiras: seis pessoas disputam cinco cadeiras e uma delas sobra:

- Os banqueiros fizeram isso, porque, de repente, o dinheiro desapareceu. Não tem mais crédito na Alemanha, na Inglaterra e no Brasil.

Lula elogiou a ação do presidente dos EUA, George W. Bush, por comprar ações de bancos privados, frisando que o controle maior do capital pelo Estado será positivo para o mundo:

- Isso é muito importante, porque o coração do regime capitalista, começa a tomar gostinho pelo papel do Estado, desmoralizado nos últimos 30 anos.

oglobo.com.br/economia