Título: Argentina: tensão envolve estatização
Autor: Paul, Gustavo
Fonte: O Globo, 22/10/2008, Economia, p. 20
Oposição critica medida para aposentadoria, e Bolsa de Valores cai 10,99%.
BUENOS AIRES. Num clima de forte tensão no país, a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, anunciou ontem o envio ao Congresso do projeto de estatização das Administradoras de Fundos de Aposentadoria e Pensão (AFJPs, na sigla em espanhol) e a criação do Sistema de Previdência Argentino (SIPA). A medida foi questionada pela oposição e provocou queda de 10,99% na Bolsa de Valores de Buenos Aires, a maior das últimas semanas. Os bônus da dívida pública recuaram, em média, 7%.
Pouco depois do meio-dia, a Justiça ordenou às AFJPs - que têm cerca de 70% de seus ativos em ações e títulos da dívida pública - suspenderem as operações por uma semana.
Para o governo Kirchner, a estatização dos fundos representa a única alternativa para salvar a aposentadoria de milhões de argentinos, já que nas últimas semanas os fundos perderam até 40%, reflexo da crise global. No entanto, líderes da oposição, entre eles a ex-candidata presidencial Elisa Carrió, acusaram a Casa Rosada de apropriar-se dos fundos para financiar a máquina estatal (em 2009, as necessidades de financiamento será de US$18 bilhões) e a campanha eleitoral em 2009, quando o casal Kirchner tentará ampliar sua bancada no Congresso.
Se o projeto de estatização for aprovado, o governo vai administrar cerca de US$30 bilhões e receberá, anualmente, US$5 bilhões, injetados pelos cinco milhões de filiados das AFJPs.
- Sei que existirão pressões porque são poucos os interesses, mas grandes os dividendos. Peço a todos, aos partidos populares e democráticos, que por única vez pensemos no futuro da Argentina - disse Cristina.
No entanto, a oposição já antecipou sua decisão de rejeitar o projeto.
- Este é mais um roubo do casal Kirchner, mais uma irresponsabilidade que provocará um dano enorme a nosso país - acusou Carrió.