Título: BC já injetou US$22,9 bilhões para segurar dólar
Autor: Batista, Henrique Gomes; Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 22/10/2008, Economia, p. 21

Autoridade monetária, no entanto, não tem conseguido evitar oscilação. Ontem, moeda subiu 4,99%, para R$2,231.

BRASÍLIA, RIO e SÃO PAULO. O Banco Central (BC) já injetou no mercado de câmbio US$22,9 bilhões para tentar segurar a cotação do dólar desde 19 de setembro. A autoridade monetária usou cinco instrumentos de intervenção para tentar irrigar o mercado com moeda estrangeira. A conta foi feita ontem pelo presidente da autoridade monetária, Henrique Meirelles, que falou, junto com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, a cerca de 120 deputados na Câmara, em sessão plenária que durou mais de cinco horas.

A artilharia pesada, no entanto, não vem obtendo todo o efeito desejado. Ontem, apesar de o BC ter feito dois leilões de dólar à vista (em que a moeda sai das reservas cambiais do país) e mais um de swaps cambiais - em que paga a variação do câmbio e recebe juros -, a moeda americana fechou em alta forte, de 4,99%, a R$2,231. Boa parte da pressão veio do exterior, já que o dólar se valorizou no mundo todo, especialmente frente a moedas européias e de países emergentes.

Além disso, no Brasil, há uma força de bancos comprando dólares que terão de devolver ao BC amanhã, avalia Francisco Carvalho, gerente de câmbio da Liquidez. É quando vence o prazo do primeiro leilão desde o agravamento da crise, feito pela autoridade monetária com compromisso de recompra da moeda. Em 19 de setembro, o BC vendeu US$500 milhões para recomprar em 23 de outubro.

Bovespa fecha em queda de 1,01%, aos 39.043 pontos

Nas operações de ontem, a instituição vendeu US$349 milhões à vista, mais cerca de US$500 milhões em contratos de swap. Ontem, o BC elevou para 30 dias o prazo para os bancos emprestarem os recursos obtidos no leilão feito pela autoridade na segunda-feira vinculado ao empréstimo a exportadores. O prazo original, de dez dias, foi considerado curto por muitos, que, por isso, deixaram de participar do leilão, avalia Sidnei Nehme, diretor-executivo da NGO Corretora. Na operação, o BC vendeu US$1,620 bilhão dos US$2 bilhões oferecidos.

Segundo o balanço feito por Meirelles, a venda de dólares no mercado à vista, conhecido como mercado spot, somava US$3,2 bilhões até segunda-feira passada, enquanto os leilões de venda de dólares com compromisso de recompra, outros US$3,7 bilhões. Os leilões de swap tradicional já somam US$12,9 bilhões e as não-rolagens dos contratos de swap reverso (o contrário do tradicional, ou seja, paga a variação dos juros e recebe a do câmbio) injetaram outro US$1,5 bilhão.

Meirelles afirmou que o giro diário com Adiantamento de Contrato de Câmbio (ACC, principal instrumento de financiamento das exportações) caiu de US$238,8 milhões, em setembro, para US$116,2 milhões entre os dias 1º e 10 de outubro.

- Com essa linhas (para exportação), espera-se que comece a normalizar as linhas de ACC - afirmou Meirelles, que lembrou que a intervenção brasileira tem uma cifra "muito menor" que a de outros países afetados pela crise, como o México.

Na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), sem notícias ruins, o dia foi mais tranqüilo, avalia Rafael Moysés, gestor de carteiras da Umuarama. O Ibovespa chegou a cair 3,44% pela manhã, a subir 1,36% à tarde, e fechou em queda de 1,01%, aos 39.043 pontos. As ações da Vale subiram 1,15% e as da Petrobras caíram 1,53%, devido à queda do petróleo. Juntas, as ações das empresas têm peso de mais de 34% no Ibovespa.

As maiores altas no dia foram das ações das empresas da construção civil, após o pacote de socorro ao segmento anunciado pelo governo. Os papéis da Rossi Residencial subiram 11,94%, os da Gafisa, 7,41%, e os da Cyrela, 2,90%.

A disparada do dólar atingiu o balanço do terceiro trimestre da Net Serviços, a maior operadora de serviços a cabo do país. A valorização da moeda gerou uma perda contábil de R$112 milhões sobre o endividamento da empresa em dólares, o que resultou em prejuízo líquido de R$4 milhões no trimestre. No trimestre passado, a Net apresentou receita líquida de R$947,6 milhões, com alta de 27% sobre igual período de 2007. A Gol informou uma perda de R$48 milhões com a variação cambial.

COLABOROU Ronaldo D"Ercole

oglobo.com.br/blogs/sociedadeanonima