Título: BB e Caixa podem ter subsidiárias sem autorização prévia do Congresso
Autor: Duarte, Patrícia; Doca, Geralda
Fonte: O Globo, 23/10/2008, Economia, p. 24

Pela primeira vez, CEF ganha permissão para atuar em câmbio e bolsa.

BRASÍLIA. A liberdade para atuar como qualquer concorrente privado ao comprar ou fazer parcerias com bancos, que veio com a Medida Provisória 443 editada ontem, facilitará ao Banco do Brasil (BB) a compra de Nossa Caixa e Banco de Brasília (BRB), ambos estaduais. Agora, o BB pode pagar em dinheiro vivo, sem a necessidade de emitir mais ações, sobretudo na forte atual turbulência. E a Caixa Econômica Federal, além de receber permissão para comprar ativos, foi autorizada ontem a entrar num mercado até então dominado pelo BNDES: a compra de participações de empresas. A instituição criará a CaixaPar, que terá R$2,5 bilhões para capitalizar, num primeiro momento, construtoras. BB e Caixa poderão abrir subsidiárias, sem necessidade de autorização do Congresso, como até então.

No caso da Caixa, a subsidiária será subordinada a um banco de investimentos - Caixa Banco de Investimentos - , criado pela Medida Provisória 443, que pela primeira vez participará de operações nos mercados de capitais e de câmbio.

Segundo o vice-presidente do BB, Aldo Luiz Mendes, até então as aquisições só poderiam ser por meio de incorporação, ou seja, com troca de ações:

- (A MP) deixa o BB em igualdade de condições para competir no mercado.

As negociações com a Nossa Caixa, controlada pelo governo de São Paulo, começaram no início do ano e estão em fase de avaliação de preços. Com o BRB, ainda está em negociação efetiva. O BB deixou claro que quer incorporar o banco do governo do Distrito Federal. Em setembro, o BB anunciou a incorporação do Banco do Estado de Santa Catarina (Besc), uma operação de R$685 milhões e que exigiu a emissão de 23,1 milhões de ações do BB. Já a do Banco do Estado do Piauí (BEP) deve ser concluída até o fim do ano.

"Quem tem dinheiro na mão acaba dando as cartas"

Mendes afirmou que o BB ainda não está de olho na aquisição, total ou parcial, de outro banco, seguradora, previdência privada e afins. Mas deixou claro que, com a forte liquidez que o banco possui, reforçada inclusive nesta crise, não vai ficar para trás. Só com compulsórios liberados recentemente são R$5 bilhões ainda não usados.

- Em momentos de liquidez concentrada, quem tem dinheiro na mão acaba dando as cartas do jogo - disse o executivo.

Apesar da liberdade para comprar um banco inteiro, Mendes disse que o BB vai continuar adquirindo carteiras de crédito de pequenas e médias instituições, e se beneficiar com mais liberações de compulsórios. Para ele, a MP não vai desestimular a compra dessas carteiras.

Até agora, o BB já comprou R$3 bilhões em carteiras e tem mais R$3 bilhões sendo avaliados, a serem fechados no curto prazo. Cerca de 90% desses negócios foram fechados com carteiras de consignado. Os recursos vieram da liberação de R$11 bilhões com os compulsórios. Os R$5 bilhões restantes poderão ser usados livremente.

Segundo o vice-presidente de Finanças da Caixa, Márcio Percival, o banco de investimentos dará maior liberdade às transações com pessoas físicas e jurídicas e permitirá financiamentos de veículos e leasing.

Os dois novos braços da Caixa deverão entrar em operação em 30 dias, segundo Percival. Na prática, a equipe econômica atendeu a dois pleitos de cinco anos da instituição. Segundo um técnico, a falta de liquidez no mercado e a dificuldade financeira das construtoras que abriram capital abrem oportunidade de negócios para a instituição:

- Se uma determinada imobiliária estiver apertada, você pode comprar participações abaixo do preço de mercado.