Título: Diferenças entre Brasil, EUA e Europa
Autor: Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 23/10/2008, Economia, p. 26

Analistas vêem estatização em comum, mas instrumentos são diferentes.

As medidas de socorro anunciadas ontem pelo governo federal têm semelhanças e diferenças com os pacotes de resgate americano e britânico ao setor financeiro, segundo especialistas. Em comum, a Medida Provisória (MP) 443, uma resposta do governo Lula às turbulências da crise internacional, busca resgatar a liquidez do sistema financeiro por meio de uma maior intervenção do Estado na economia, com a estatização parcial de empresas e posterior revenda para a iniciativa privada. Para os analistas, a principal diferença são os instrumentos adotados pelo governo brasileiro, que optou por injetar recursos nas instituições de forma indireta, via Banco do Brasil (BB) e Caixa Econômica Federal (CEF).

Os pacotes do presidente americano George W. Bush e do primeiro-ministro britânico Gordon Brown prevêem investimento direto do Tesouro nas instituições, o que aceleraria a ajuda a essas empresas.

- O governo brasileiro segue a linha adotada nos EUA e na Europa para incentivar o mercado de crédito. Ele está se autorizando a investir mais e a atuar como intervencionista no setor privado - avaliou Ricardo Zeno, economista da AZ Investimentos.

O sócio-diretor da Tendências, Nathan Blanche, reconhece as diversas semelhanças, mas lembrou que os pacotes de Bush e Brown têm outra escala de atuação. Nos EUA, o pacote soma US$700 bilhões. Na Inglaterra, pode superar a casa de US$1 trilhão.

- Os papéis não estão virando pó aqui no Brasil, não existem esqueletos. Comparando as duas situações, aqui seria uma tratamento de hospital. Nos EUA e na Europa, tem gente na funerária. Por isso, os pacotes divergem também em escala.

Alexandre Póvoa, diretor da Modal Asset, chamou atenção para o fato de o governo brasileiro ter agido por meio de uma medida provisória, o que colocou o Congresso à margem do processo. Nos Estados Unidos, o pacote precisou passar pelo Senado e pela Câmara dos Representantes (Câmara dos Deputados).

- Quando as medidas foram anunciadas, o medo era exatamente que houvesse coisa em comum - afirma.