Título: Pacote da era Lula chega a R$207 bilhões
Autor: Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 23/10/2008, Economia, p. 26

Ação contra crise já soma 22 medidas. Mais R$49 bi podem ser liberados.

BRASÍLIA. Com o agravamento da crise financeira internacional, o governo vem anunciando a conta-gotas um arcabouço inédito que já soma 22 medidas e forma um dos maiores pacotes econômicos da era Lula. Ele já permitiu a liberação de R$207,8 bilhões ao mercado. A munição oficial, que começou a ser usada em 24 de setembro, pode ser ainda maior. Há ao menos mais R$49,3 bilhões em compulsórios que podem ser usados, segundo aviso prévio do Banco Central (BC).

Além disso, podem ser realizados ilimitados leilões de dólares e tomadas novas medidas de incentivo ao setor produtivo. Uma ajuda à construção civil, somando cerca de R$4 bilhões está sendo gestada pela Caixa Econômica e o BNDES, por exemplo.

Esse pacote tem como meta o restabelecimento do crédito no país, que secou desde o acirramento do pânico internacional. Com a escassez e o encarecimento dos empréstimos, a economia real já está sendo fortemente atingida, com destaque para as exportações, a agricultura e o financiamento de bens de consumo duráveis, como veículos, e de imóveis.

O efeito colateral das medidas foi uma maxidesvalorização do real, que surpreendeu economistas, analistas do mercado financeiro e o governo, com impacto direto no comércio exterior brasileiro. Além da falta de crédito, os exportadores estão evitando fazer novos negócios, à espera da estabilização do dólar frente ao real. A moeda americana fechou ontem a R$2,38.

Se, no início, o governo avaliava que o problema se situava meramente no setor financeiro - dando margem a avaliações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que os efeitos seriam apenas "uma marolinha" -, agora ele percebe que, se não irrigar o mercado com dólares e reais, usando reservas cambiais, compulsórios bancários e o caixa dos bancos públicos, as conseqüências sobre o setor produtivo brasileiro serão extremamente danosas.

Uma das grandes preocupações da equipe econômica é o setor de construção civil, grande gerador de empregos e parte fundamental na execução das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

- A crise começou pelos ricos e está chegando aos emergentes. Primeiro, atingiu o patrimônio, a liquidez e o crédito. Em outro momento, afetará emprego e renda - disse o economista da Rosenberg Associados Dirceu Bezerra Júnior.

Ele afirmou que considera correto o procedimento do governo no sentido de adotar medidas preventivas para enfrentar a crise. No entanto, em sua opinião, a solução para os problemas não está no Brasil.

- Se os países ricos ainda não solucionaram o problema, não há nada que possamos fazer por aqui, a não ser nos defender - ressaltou o economista.

Para o setor agrícola, governo já anunciou R$15 bi

O governo já anunciou medidas que somam quase R$15 bilhões de recursos para o setor agrícola. Uma das últimas foi liberação de mais R$2,5 bilhões por intermédio do aumento da destinação obrigatória da captação dos bancos. Essa decisão deverá ser ratificada no dia 28, na reunião ordinária mensal do Conselho Monetário Nacional (CMN).

Contudo, a Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) faz um diagnóstico pessimista para 2009. A entidade projeta uma queda de pelo menos 5% na produção, devido à redução do uso de insumos e tecnologia e à dificuldade em obter financiamento para o plantio da safra 2008/2009.

Um levantamento preliminar mostra que 20% dos produtores não compraram insumos para o plantio. Com restrições de acesso ao crédito para plantar a safra e a alta do dólar, aumentam as dificuldades para custear a safra, pois vários produtos são atrelados à moeda americana.