Título: Cabral, ex-tucano, defende aliança PT-PMDB
Autor: Gois, Chico de ; Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 30/10/2008, O País, p. 8

Governador afirma que partido está unido em defesa do governo; acordo valeria para 2010, Câmara e Senado

Chico de Gois, Adriana Vasconcelos e Gerson Camarotti

BRASÍLIA. Algumas vezes apontado como o vice dos sonhos do presidente Lula na chapa presidencial da chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, o governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), defendeu ontem, após se reunir com o presidente e ao longo do dia no Congresso, a manutenção da aliança entre PT e PMDB em 2010 e para a sucessão na Câmara e no Senado. Para Cabral, o PMDB nunca esteve tão unido em defesa do governo.

- Não creio que possamos estar em caminhos diferentes do de Lula em 2010. O PMDB esteve no governo de Fernando Henrique numa situação de partido rachado; e esteve no primeiro mandato do presidente Lula, ainda com divisões. O PMDB vive seu melhor momento, do ponto de vista de sua unidade, da participação no governo federal, com ministros prestigiados e uma base coesa, e com o presidente respeitando o partido como nunca se respeitou antes.

Cabral se mostrou confiante sobre um acordo para as presidências da Câmara e do Senado: na Câmara, há um acerto pelo qual o PT apoiaria Michel Temer (PMDB-SP) mas, no Senado, parte do PMDB se opõe ao petista Tião Viana (AC), lançado pela bancada do PT anteontem, na casa de Eduardo Suplicy (SP).

- Não tenho dúvida de que vamos marchar unidos na sucessão da Câmara e do Senado. Sou absolutamente favorável a que se chegue a um denominador comum, e vamos chegar. Chega de arrivismo. Já vimos para onde vai o arrivismo no Executivo, em tempos longínquos, com um presidente inclusive "impichado", e no ambiente do Legislativo, com um presidente da Câmara afastado. Vamos para a política orgânica, séria e madura.

Cabral e Paes passaram na presidência do PMDB para reforçar a campanha de Temer. Os dois mostram sintonia, defendendo o entendimento entre PMDB e PT na disputa no Senado. Após encontros na Casa, Cabral voltou a defender a aliança.

Ciente do risco de divisão da base governista no Senado, Lula está certo de que terá que arbitrar esse jogo, mas só deve atuar em janeiro. Sabe também que a oposição vai aproveitar a disputa para tentar enfraquecer o governo no Senado, onde a base é mais frágil.

O lançamento da candidatura de Viana para presidente do Senado, com a presença do presidente do PT, Ricardo Berzoini, foi considerado no Planalto um movimento precoce. A intenção da bancada foi evitar outras candidaturas de petistas incensadas pelo PMDB.

- Ou fazíamos isso, ou iríamos para córner. Meu papel é de entendimento - disse Viana.

Em reação, o PMDB organizou um jantar ontem na residência do senador Walter Pereira (MS). O partido ameaça vetar o nome de Viana e insinua o lançamento de uma candidatura de consenso, como a do senador José Sarney (PMDB-AP).