Título: Cabral inaugura UPA com ataques a Gabeira
Autor: Bruno, Cássio; Bottari, Elenilce
Fonte: O Globo, 24/10/2008, O País, p. 9

Candidato reage e acusa o governador de deslealdade.

Graças a uma liminar da Justiça Eleitoral, o governador Sérgio Cabral (PMDB) inaugurou ontem, no Engenho Novo, mais uma Unidade de Pronto-Atendimento 24 horas (UPA), a terceira em uma semana. No evento, Cabral atacou o candidato a prefeito Fernando Gabeira (PV), adversário de seu aliado, Eduardo Paes (PMDB). Anteontem, o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) proibira a inauguração de novas UPAs até domingo para evitar exploração política em favor de Paes.

- Lamento que o candidato a prefeito (Gabeira) ache que a melhor maneira de obter um resultado eleitoral é impedindo que a população tenha atendimento de saúde de qualidade. Se fosse a primeira UPA.... Mas é a vigésima. Misturar isso com campanha eleitoral é lamentável - disse Cabral, apesar de o recurso contra as inaugurações não ter partido da campanha de Gabeira.

Foi o Ministério Público Eleitoral que deu parecer sobre uso eleitoral das unidades de saúde por Cabral, e o TRE aceitou, determinando a suspensão das inaugurações até as eleições. A decisão foi do juiz Fábio Uchôa, da fiscalização, e se estendeu a outras obras de caráter social.

- A saúde sempre foi motivo de críticas nos programas eleitorais. Pela primeira vez na história, a saúde passa a ser ponto positivo. Como nosso adversário (Gabeira) está querendo impedir o atendimento a uma saúde de qualidade, ele está prejudicando milhares de pessoas - atacou o governador, entrando publicamente na campanha de Paes, pela qual articula desde o começo nos bastidores.

Perguntado sobre a concentração de inaugurações de UPAs esta semana, reta final da campanha eleitoral, Cabral afirmou que a iniciativa não é "pressa eleitoral", e sim "pressa de atender a população":

- Graças a Deus perceberam que quem tem pressa de ter uma UPA 24 horas é a comunidade, que precisa de atendimento de saúde e que não tem nessa região. Até o dia de hoje (ontem) os moradores tinham que recorrer à emergência do Hospital Salgado Filho. Agora, terão uma UPA próxima.

Fiscais do TRE estiveram no local, mas não viram irregularidade. Na terça-feira, na abertura de uma UPA em Campo Grande, na Zona Oeste, cabos eleitorais de Paes portavam bandeiras diante da unidade.

Assim como Paes, Cabral voltou a associar Fernando Gabeira ao atual prefeito, Cesar Maia (DEM), e ao PSDB, partido que faz parte da coligação do candidato do PV:

- Preocupa a turma que está com o Gabeira. O Gabeira, nos 12 anos de (governo) Cesar Maia, indicou os secretários de Urbanismo e Meio Ambiente. A turma que está no poder há muitos anos levou o Rio a uma posição, desgraçadamente, de prejuízos.

Gabeira, que não representou contra as inaugurações, respondeu com indignação às acusações de Cabral:

- O entendimento do TRE foi que essas inaugurações têm caráter eleitoral. Sobre as obras em si, não tenho essa visão, mas, se existe uma lei eleitoral, ela der ser cumprida.

Gabeira afirmou ainda:

- É um equívoco, até uma deslealdade. Quem embargou a inauguração foi o TRE. Se ele (Cabral) fosse uma pessoa leal, diria que a decisão foi do TRE. Eu jamais interferi. O que eu digo sobre as UPAs é que elas não resolvem sozinhas, tanto que elas estão aí e não conseguiram reduzir a demanda dos hospitais de emergência.

TRE cassa prefeito eleito por uso eleitoral de UPA

O uso eleitoral de uma UPA provocou ontem a cassação da diplomação do prefeito eleito de Barra Mansa, José Renato Bruno Carvalho (PMDB). Numa cena veiculada no dia 27 de agosto, no horário eleitoral gratuito, ele aparece ao lado do governador Sérgio Cabral, dentro do Palácio Guanabara. O governador comentava sobre a inauguração de uma UPA na cidade e pedia votos para José Renato, com o argumento de que Barra Mansa "teria um salto de qualidade na saúde com a eleição do candidato". O juiz Luiz Márcio Pereira considerou que a propaganda tinha "uma potencialidade devastadora para influir no resultado da eleição".

A cassação da liminar que proibia inaugurações causou mal-estar entre juízes no TRE. A cassação foi assinada pelo juiz Paulo Troccoli, embora o processo tivesse sido distribuído para Jacqueline Montenegro, que pretendia manter o veto.