Título: BC estima PIB menor
Autor: Nunes, Vicente
Fonte: Correio Braziliense, 09/03/2009, Economia, p. 9

BOLHA GLOBAL

Com dados cada vez piores da economia, Banco Central reduzirá a previsão de crescimento deste ano de 3,2% para cerca de 2%. Bird afirma que mundo terá a primeira contração desde a Segunda Guerra Mundial

-------------------------------------------------------------------------------- Vicente Nunes Da equipe do Correio Antonio Cruz/ABr - 18/12/08 Meirelles reconhece que tombo da atividade foi maior que o esperado Apesar de todo o otimismo que vem tentando disseminar ¿ o que é compreensível pelo cargo que ocupa ¿, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, já admite que a instituição terá que dar a mão à palmatória e reduzir, oficialmente, sua previsão de crescimento para o Produto Interno Bruto (PIB) neste ano. Pelas contas preliminares dos técnicos do banco, ¿por tudo o que já se viu e pelas perspectivas negativas que se têm pela frente¿, não há mais como manter a estimativa de 3,2% anunciada no final do ano passado. A tendência é de que a previsão do BC para o PIB, que será divulgada no final deste mês por meio de relatório trimestral de inflação, fique próxima de 2%, um número ainda robusto diante do pessimismo cada vez maior do mercado. A grande maioria dos analistas fala em crescimento abaixo de 1%. E ninguém descarta uma contração do Produto.

O BC vinha baseando seu otimismo na certeza de que o grosso do ajuste da economia brasileira à crise internacional teria ocorrido no último trimestre do ano passado. As empresas teriam reduzido drasticamente a produção para desovar os estoques. Com isso, já no início deste ano, as fábricas voltariam a religar as máquinas para atender aos pedidos do comércio. Essa visão se manteve firme, principalmente, diante da reação da indústria automobilística à redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) promovida pelo governo. Todo esse discurso ruiu, porém, na última sexta-feira, quando o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) anunciou queda de 17,2% na produção industrial de janeiro ante o mesmo mês de 2008, a maior retração desde 1990, sob o governo Collor.

¿Infelizmente, o ajuste dos estoques vai demorar mais do que imaginávamos. Sendo assim, a produção industrial só deverá retomar o fôlego a partir de abril. Isso, é claro, se a situação atual não se deteriorar ainda mais, o que é bem provável¿, afirmou um técnico do BC. ¿Agora, não poderemos forçar a mão na previsão do PIB. Se o BC jogar a toalha, será o caos. Temos de manter o efeito demonstração. Convencer que, mesmo crescendo bem menos, o Brasil está em uma situação melhor do que a grande maioria do mundo¿, acrescentou. Segundo o técnico, o bom é que o PIB menor será acompanhado de uma projeção menor de inflação. ¿Em vez de 4,7% devemos anunciar um número abaixo de 4,5%, o centro da meta definida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional)¿, frisou.

Para Maurício Molan, economista do Banco Santander, é essa realidade da economia, com indicadores piores a cada dia, que levará o BC a acelerar o processo de corte da taxa básica de juros (Selic) para 1,5 ponto percentual na quarta-feira. ¿Desde outubro, os juros reais (que descontam a inflação futura) caíram quase cinco pontos percentuais, de 10,6% para 5,7% ao ano. Mas, mesmo que estejam nos menores patamares da história, esses juros podem não ser suficientes para estimular a produção e o consumo¿, assinalou.

Nos Estados Unidos, o Banco Mundial (Bird) informou ¿ sem dar um número ¿ que espera retração da economia mundial em 2009, a primeira desde a Segunda Guerra Mundial. A instituição também previu que os países emergentes, entre eles o Brasil, deverão registrar neste ano uma falta de linhas de crédito de até US$ 700 bilhões, volume que dificilmente conseguirá ser coberto pelos organismos multilaterais, como o Fundo Monetário Internacional (FMI).

MARATONA COM GOVERNADORES O governo fará hoje e amanhã uma série de reuniões com governadores e prefeitos para tentar desempacar o pacote de habitação prometido há três meses para estimular a economia por meio da construção de 1 milhão de moradias. O Planalto teve que mexer na agenda dos ministros Dilma Rousseff (Casa Civil) e Márcio Fortes (Cidades) para acomodar os encontros, pois o presidente Lula quer anunciar as medidas até o dia 18. O governo pretende que estados e municípios entrem com terrenos e infraestrutura e reduzam impostos para viabilizar os projetos. Mas há resistências. O pacote ganhou conotações políticas pelo fato de as eleições de 2010 já estarem nas ruas. (VN)