Título: Sadia registra um prejuízo de R$777 milhões
Autor: D"Ercole, Ronaldo
Fonte: O Globo, 30/10/2008, Economia, p. 34

Aposta em derivativos cambiais influiu no resultado. Empresa deve fechar o ano no vermelho pela primeira vez

Ronaldo D"Ercole e Geralda Doca

SÃO PAULO e BRASÍLIA. As perdas com aplicações em derivativos cambiais alavancados e com títulos de bancos internacionais que foram tragados pela crise financeira levaram a Sadia ao prejuízo no terceiro trimestre. Com o resultado, a empresa deve fechar o ano no vermelho pela primeira vez na sua história. Em balanço divulgado ontem, a Sadia anunciou prejuízo de R$777,4 milhões entre julho e setembro, contra um lucro líquido de R$188,35 milhões no mesmo período de 2007. Nos nove primeiros meses do ano, a empresa acumula perdas de R$442,6 milhões, resultado que pode ser diminuído, mas dificilmente invertido - o lucro da empresa no último trimestre do ano passado, quando as condições de mercado eram amplamente favoráveis, foi de R$330 milhões.

- Acreditamos que haverá uma acomodação natural nos mercados internacionais, com reflexos nas bolhas de preços e custos (de commodities - disse o diretor presidente da Sadia, Gilberto Tomazoni, ao falar sobre as perspectivas para os próximos meses. - No Brasil também deve haver acomodação.

BNDES sinaliza que ajudará Sadia e Aracruz

Com o balanço, a Sadia apresentou mais detalhes em relação aos efeitos da crise sobre suas operações com moeda estrangeira. Na segunda quinzena de setembro, a empresa informou ter liquidado duas operações de derivativos com dois bancos: uma de R$424 milhões e outra de R$119 milhões. A empresa ainda divulgou outra liquidação de ativos no valor de R$108 milhões, o que eleva para R$653 milhões as perdas efetivas com os derivativos "tóxicos", contra uma estimativa menor.

- Aquelas eram estimativas - justificou-se Tomazoni.

Sobre as aplicações que mantinha em títulos do Lehman Brothers, que pediu concordata, a Sadia informou ter perdido outros R$259 milhões com a forte depreciação dos papéis (ajuste conhecido como marcação a mercado). A Sadia, que tem metade de suas receitas (R$12 bilhões) obtidas com exportações, informou ainda que, por causa de outras operações de hedge no mercado futuro, teve de fazer depósitos para cobertura de margens na BM&F no valor de R$970 milhões.

- As chamadas de margem se ampliaram por causa do aumento da volatilidade - explicou o presidente do Conselho de Administração da Sadia, o ex-ministro Luiz Fernando Furlan.

Já o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, disse ontem que o governo vai ajudar os setores que foram mais prejudicados pelo travamento do crédito, como áreas ligadas à infra-estrutura e à indústria em geral. Ele reafirmou que o BNDES vai ajudar as empresas a recuperarem a capacidade de investimento, inclusive aquelas que perderam com operações de derivativos, como Sadia e Aracruz:

- Estamos preocupados com a capacidade de investimento dessas empresas.