Título: Greenspan, pela primeira vez, admite que errou
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Fonte: O Globo, 24/10/2008, Economia, p. 32
Ex-presidente do Fed diz que instituições financeiras não protegeram investidores e acionistas como deveriam.
WASHINGTON. O ex-presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) Alan Greenspan disse ontem que "um tsunami do crédito que ocorre uma vez por século" tragou os mercados financeiros. Em audiência na Câmara dos Representantes dos EUA, Greenspan admitiu pela primeira vez ter errado, ainda que "parcialmente", ao se opor a uma maior regulamentação de derivativos e regulação de bancos enquanto estava à frente do Fed, e frisou que as instituições financeiras não protegeram os investidores e aplicações tão bem quanto ele previa.
- Sim, encontrei uma falha - disse Greenspan, ao responder a uma sessão de perguntas da Comissão de Supervisão e Reforma Governamental da Câmara. - É exatamente por isso que fiquei chocado, pois acompanhei 40 anos ou mais de evidências bastante significativas de que (o modelo baseado nessa ideologia) estava funcionando excepcionalmente bem.
Greenspan ocupou a presidência do Fed entre agosto de 1987 e janeiro de 2006. Ao longo de todo esse período, ele se opôs à intensificação da supervisão financeira. Ao reconhecer seu erro "parcial" ontem, o ex-presidente do Fed lembrou que a formulação de prognósticos não é uma ciência exata.
- Quando acertamos nas nossas previsões por 60% do tempo, estamos nos saindo excepcionalmente bem - disse, reconhecendo a necessidade de maior regulação - (As empresas) deveriam estar muito mais reguladas para impedir o tsunami do crédito, que só ocorre uma vez por século.
Para Greenspan, aumento de demissões será inevitável
Além de Greenspan, participaram da sabatina na Câmara o ex-secretário do Tesouro John W. Snow e o presidente da SEC (o xerife do mercado de capitais nos EUA), Christopher Cox. A audiência faz parte de uma tentativa dos deputados de apontar falhas na regulação financeira que levaram à crise atual.
- A lista de erros é longa e o custo para os contribuintes é assustador - disse o democrata Henry A. Waxman, presidente da comissão na Câmara. - Nossos reguladores se tornaram possibilitadores em vez de zelarem pelas regras. O mantra era o de que a regulamentação do governo era um erro, e que o mercado era infalível.
Greenspan reiterou sua "perplexa descrença" na capacidade das empresas financeiras de exercer a "vigilância" necessária sobre suas parceiras para evitar prejuízos.
- Aqueles que olharam para os interesses das instituições que concediam crédito para proteger os acionistas, eu especialmente, estão em estado de perplexa descrença.
No entanto, esquivou-se da culpa ao dizer que os investidores que compraram títulos lastreados em hipotecas de alto risco não avaliaram adequadamente os riscos do boom imobiliário. Para o ex-presidente do Fed, o pacote de socorro de US$700 bilhões aprovado pelo Congresso americano é "adequado". Mas, "considerando os danos já ocorrido", ele acredita não ser possível evitar "um significativo aumento nas demissões."
Na avaliação de Greenspan, uma alternativa para enfrentar a crise passaria pela exigência de que todas as empresas que securitizam ativos retenham uma parte significativa dos títulos que emitem. Os defensores da medida dizem que isso incentivaria as empresas a garantirem que foram fixados para tais ativos preços apropriados em relação a seus riscos.
(*) Com agências internacionais