Título: Posso conversar, ouvir opiniões, sugestões, mas a escolha é minha
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Fonte: O Globo, 31/10/2008, O País, p. 4

Paes diz que terá técnicos em áreas como Saúde, Educação, Fazenda e Obras

O futuro prefeito foi eleito por uma ampla aliança, mas não serão os partidos que vão nomear para os cargos na prefeitura: "A escolha do meu secretariado é minha, de mais ninguém", disse Eduardo Paes. Segundo ele, as secretarias de Saúde, Fazenda, Educação, Administração, Urbanismo e Obras serão ocupadas por técnicos. Mas, para a de Transportes, o perfil deve ser diferente. Para Paes, lidar com empresas de ônibus, vans e taxistas é tarefa para um político. E ele gostaria que fosse... Eduardo Paes. "Mas a modéstia me impede", disse ele, que reservará um cargo para o vice-prefeito eleito, Carlos Alberto Muniz.

Paes prometeu estar presente nas ruas da cidade. "Gosto de rua", disse. Em crítica direta ao prefeito Cesar Maia, com quem se encontrou esta semana, disse que a cidade está carente de prefeito.

Afirmou ainda que não será tutelado pelo governador Sérgio Cabral: "Pela minha personalidade, que não é das mais frágeis, está claro que não sou um sujeito tutelável, e nem o Sérgio tem esta vontade de tutelar".

O senhor vai ter indicações dos partidos aliados para cargos...

EDUARDO PAES: A escolha do meu secretariado é minha, de mais ninguém. Posso conversar, ouvir opiniões, sugestões, mas a escolha é minha. Agora, eu pretendo governar com um arco de alianças. Pretendo conversar com o PT, o PSB, o PCdoB. Há áreas que acho que devem ser essencialmente técnicas, não devem ter políticos: Fazenda, Saúde, Educação, são áreas em que botar político não é bom.

O exemplo da Saúde é isso? Diziam que Jandira Feghali poderia indicar...

PAES: Sim, é um exemplo. As pessoas diziam que ia ser, eu nunca disse nada, nem acordei nada com ela, e indiquei um quadro técnico porque achei mais adequado. Fiz questão que tivesse entrosamento com o secretário de estado e com o ministro (José Gomes) Temporão.

A Jandira poderá integrar o seu secretariado? Ela foi importante no segundo turno.

PAES: Acho a Jandira um belo quadro político, e o PCdoB foi um partido importante no apoio no segundo turno. Se o PCdoB entender que a Jandira é um nome adequado para ser secretária no meu governo, certamente não terá meu veto. Não concordo com tudo o que a Jandira acha, mas é uma mulher com história decente, uma pessoa preparada.

O (Jorge) Rachid aceitou o seu convite para a Fazenda?

PAES: Ele está articulando para ir para um posto da Receita em Washington. Foi a única pessoa com que, antes de ser eleito, eu tratei do assunto. Quando ele saiu da Receita, eu falei: "Não aceita nenhum cargo, segura a sua onda, porque, se eu ganhar a eleição, gostaria de ter você como secretário de Fazenda". Eu busco um cara técnico, um acostumado a dizer não (risos). Um pouco o que a Maria Silvia (Bastos Marques) fez no primeiro governo Cesar.

O senhor vai criar a Secretaria da Ordem Pública, pretende criar outras... Vai extinguir alguma?

PAES: A minha idéia é reduzir. Hoje são 23 secretarias, 18 subprefeituras. As subsecretarias não são problema, é a estrutura de cada secretaria. Por exemplo, a secretaria do Pedro Paulo (secretário-chefe do Gabinete do prefeito), que terá o papel meio de gerentão do governo, vai ter subsecretaria, e tem que ter. Acho que tem secretaria demais. Provavelmente, vamos reduzir o número. Eu penso em (criar) duas, a da Ordem Pública e a da Mulher, que foi um compromisso que assumi no segundo turno.

E as autarquias e empresas?

PAES: Ali não tem muito o que extinguir. Há estruturas ligadas às secretarias. A CET-Rio; a MultiRio, na Educação; a PreviRio. A princípio, em autarquias e fundações, não tenho idéia de mudar nada, não. A RioLuz vai voltar para a Secretaria de Obras. Isso (tirar a RioLuz da Secretaria de Obras) foi uma doideira que o Cesar fez para deixar sob o comando do Alexandre Cerruti, que era secretário da Qualidade de Vida, que tradicionalmente tinha a RioLuz sob o comando dele. Isso nós vamos reestruturar. Não estou com tanta pressa de anunciar secretários, porque não vou ter secretaria por causa de nome. Vou ter as caixinhas prontas para botar os nomes dentro.

Essa reestruturação vai demorar quanto tempo?

PAES: Acho que até semana que vem. Tem informações que eu não tinha até agora.Tem que dar uma mapeada melhor para tomar algumas decisões. Em princípio, eu imagino que não vou ficar com a Secretaria de Propaganda e Pesquisas. Não estou pensando em deixar uma Secretaria de Comunicação Social. Posso fazer fusão de secretarias.

Qual será o papel do seu vice, Carlos Alberto Muniz?

PAES: Ele deve assumir uma secretaria. Acho que o vice tem um papel importante, mas um vice à toa, sem ter uma secretaria, sem ter uma função executiva, acaba...

O senhor tem um técnico na Saúde, tem dito que na Fazenda e na Educação vão ser técnicos, e Obras. Seriam só essas ou vai ter mais alguma? Administração? Transporte?

PAES: Não sei. Às vezes até no Transporte você precisa de alguma mais articulada do que técnica por causa dos desafios ali. No transporte, penso num nome mais... Eu adoraria um Eduardo Paes para ser secretário de Transportes, que minha modéstia não me deixe errar.

Urbanismo?

PAES: Técnico. Ali não tem como.

Então seriam essas: Saúde, Administração, Obras, Urbanismo e Fazenda?

PAES: É. No transporte, o cara tem que ter capacidade de articulação, lidar com empresários de ônibus. A implantação do bilhete único prevê articulação, vai ter que lidar com transporte alternativo, com taxista. Ali pode ser que eu prefira um com perfil, que se cerque de técnicos.

Sua mulher terá participação no governo?

PAES: Será uma decisão dela. Ela está terminando a faculdade, e a idéia dela é trabalhar na própria área. Tem sempre um papel de primeira-dama, mas vai depender dela.

A impressão é que o governador Sérgio Cabral teve uma influência nas suas escolhas na primeira semana...

PAES: Tem certas inseguranças que eu não tenho na vida. Vou trabalhar muito com o governador. Mas, pela minha personalidade, que não é das mais frágeis, está claro que eu não sou um sujeito tutelável, e nem o Sérgio tem esta vontade de tutelar. Agora, que você vai ter um compromisso meu que o secretário de Saúde se dê bem com o do estado, não tenha dúvida que isso vai funcionar. Se tiver de brigar, se tranca numa sala. O primeiro secretário meu que brigar publicamente com secretário estadual ou ministro vai ser demitido.

O prefeito vai estar de novo na rua?

PAES: Não tenha dúvida. Vejo uma carência de prefeito. Há tanto tempo que o Rio está sem prefeito! Há quatro anos vocês não têm resposta para as coisas, e a população está angustiada com isso. As pessoas não vêem o prefeito, que não trata das coisas da cidade. Nega as crises. É como se as coisas não estivessem acontecendo. Que é a origem da fase do "Ilegal, e daí", da crise da dengue, morrendo gente adoidado, e não assume que a gente estava vivendo uma epidemia. Tem essas coisas de as pessoas sentirem falta do prefeito. Sou um cara que gosta de rua.