Título: Três anos depois, novo escândalo nos Correios
Autor: Carvalho, Jailton de
Fonte: O Globo, 31/10/2008, O País, p. 12

PF prende diretor e mais 15 acusados de fraudar licitações; esquema lembra o de 2005, que iniciou escândalo do mensalão

Jailton de Carvalho

BRASÍLIA. Três anos depois do escândalo do mensalão, a Polícia Federal prendeu ontem 16 empresários e servidores públicos, entre eles o diretor comercial dos Correios, Samir de Castro Hatem, acusados de fraudar licitações na área de informática e milionários contratos de agências franqueadas. Segundo a PF, o esquema investigado é suspeito do desvio de R$21 milhões.

A operação da PF foi batizada de Déjà Vu, "já visto" em francês. Isso porque as fraudes em licitações eram semelhantes as que foram investigadas em 2005 envolvendo o ex-chefe de Contratação dos Correios Maurício Marinho, que acabou detonando o escândalo do mensalão.

No início das investigações, pareceu inacreditável para a polícia que, depois do trauma político do mensalão e, mais recentemente, da chamada Operação Selo, surgissem indícios de novas fraudes nos Correios. O diretor Samir Hatem é ex-presidente do INSS e foi indicado para a Diretoria Comercial dos Correios, uma das mais importantes, pelo líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR). Entre os presos estão ainda o superintendente-executivo da Diretoria Comercial, Roberto Santana, e um diretor da regional da estatal em São Paulo.

A PF apreendeu computadores e documentos na Diretoria Comercial, no 18º andar da sede dos Correios. Os policiais chegaram ao prédio por volta das 6h.

O presidente dos Correios, Carlos Henrique Almeida Custódio, afirmou ontem que pedirá informações sobre o caso à Justiça Federal em Sorocaba, base das investigações, para então tomar as providências cabíveis:

- Isso é muito grave e lamentável. Não se faz com uma empresa com a credibilidade dos Correios. Quem fez, se é que fez (fraudes), vai pagar caro.

Servidores praticavam extorsão contra empresários

Custódio disse nada saber sobre as supostas irregularidades e que não havia suspeita de fraude em licitações e contratos. Segundo a PF, altos servidores dos Correios se aproveitavam do acesso a informações privilegiadas para pressionar donos de agências franqueadas a vender as empresas por preço muito baixo. Se não se desfizessem das agências, seriam descredenciados. Sem alternativas, os empresários se viam obrigados a vender as agências para pessoas ligadas ao grupo.

Segundo a polícia, o grupo também desviava contratos de bancos e grandes empresas para as agências franqueadas. Pelas regras internas, os grandes contratos só podem ser firmados com as agências estatais dos Correios, e não com as agências privadas. Foram descobertos também indicativos de direcionamento de licitações para a compra de computadores e contratação de serviços de tecnologia. As investigações da PF começaram ano passado. Um empresário denunciou que estava sendo vítima de extorsão por parte de altos funcionários dos Correios.

Nota divulgada pela polícia explica que as investigações começaram em janeiro de 2007, "para apurar irregularidades na venda/transferência de agências franqueadas dos Correios. Foram colhidas provas da atuação de uma quadrilha que fraudava a empresa na ordem de R$30 milhões/ano. O grupo contava com a participação de funcionários do órgão". Segundo a PF, os investigados são suspeitos de crimes de extorsão, tráfico de influência, corrupção ativa e passiva, advocacia administrativa, formação de quadrilha, falsidade ideológica e descaminho.

Procurado pelo GLOBO, Romero Jucá não foi localizado, assim como o advogado de Samir.