Título: Economistas dizem que países mais ricos do mundo já estão em recessão
Autor: Bôas, Bruno Villas
Fonte: O Globo, 31/10/2008, Economia, p. 27
Previsão é de retração no G-7 de até 2% nos próximos 3 a 4 trimestres
Bruno Villas Bôas
O resultado do PIB americano divulgado ontem reforçou a avaliação entre economistas de que os países mais ricos do mundo - reunidos no G-7 - já entraram em recessão e que o pior da crise financeira internacional ainda está por vir. Embora o mercado tenha reagido bem à queda de 0,3% da economia americana no terceiro trimestre, menor que a média das previsões, analistas traçaram cenários mais sombrios para os efeitos da crise e estimaram uma retração de 1% a 2% nas economias desenvolvidas nos próximos três a quatro trimestres.
Para Dirceu Bezerra, diretor da Rosemberg Consultores, a queda de 3,1% nos gastos dos consumidores americanos - que responde por cerca de 70% do PIB do país - e a retração de 1,9% nos investimentos privados são os sinais mais preocupantes para a economia.
- A situação é muito mais grave do que uma primeira leitura indica. Essa queda no PIB de apenas 0,3% tem que ser lida como uma das últimas boas notícias. Vai piorar, antes de melhorar - avalia.
Ele lembrou que o resultado reforça a idéia de que os países do G-7 entraram em recessão. Prova disso, disse Bezerra, está no desempenho do PIB da França (queda de 0,1%) e da Inglaterra (baixa de 0,5%) no último trimestre.
Exportação do Brasil sofrerá efeitos de EUA e Ásia
Para Marcelo Nonnenberg, economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a queda do PIB dos EUA não foi maior por três fatores: aumento de estoques, das exportações líquidas e gastos do governo. Ele afirma que esses resultados, porém, não devem se repetir daqui para a frente.
- Com a retração da economia mundial, as exportações americanas serão menores. Já os estoques refletem a queda do consumo, o que é ruim, e os gastos do governo podem desacelerar.
Para o economista Ricardo Carneiro, professor do Instituto de Economia da Unicamp, uma piora ainda maior da crise afetará as exportações brasileiras. Ele lembrou que os EUA respondem por 14,5% das exportações do país, o que tende a reduzir. Além disso, o comércio entre países asiáticos e o G-7 tende a desacelerar, o que vai reduzir a demanda por commodities brasileiras.