Título: Mundo sentirá efeitos da crise pelo menos até 2010, diz Pedro Malan
Autor: D'Ercole, Ronaldo
Fonte: O Globo, 25/10/2008, Economia, p. 32

Para ex-ministro, Brasil precisa responder aos impactos com serenidade.

SÃO PAULO. O ex-ministro da Fazenda Pedro Malan disse ontem que o Brasil e o mundo deverão conviver com a atual crise financeira e seus efeitos pelo menos até meados de 2010. Em palestra no seminário "Mudanças na balança de poder global: perspectivas econômicas e geopolíticas", Malan alertou para a importância de, em momentos como atual, o Brasil responder aos impactos que o atingem mantendo-se "sereno" e "previsível", sem invenções ou "experiências heterodoxas".

- À luz da crise que estamos vivendo hoje e que estará conosco em 2009, e parte de 2010, passa a ser absolutamente essencial a capacidade de resposta que um país tem a dar. Respostas não só no sentido de política econômica, mas também no sentido de mostrar que entendeu a natureza dos desafios a enfrentar. Tomar uma postura, uma visão de médio e longo prazo, não abandonar o caminho que vinha seguindo há 15 anos, se mostrar um país mais previsível, mais confiável. Um país que não procura reinvenções da roda ou grandes experimentos heterodoxos - disse Malan, que é presidente do Conselho de Administração do Unibanco.

Principal estrela do seminário, que foi promovido pela Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), em parceria com o Instituto Fernando Henrique Cardoso (iFHC), o historiador Paul Kennedy, da Universidade de Yale, disse que a crise atual deixa claro que a "unipolaridade" exercida pelos Estados Unidos na economia, desde o fim da União Soviética, em 1991, deixou de existir de vez.

Para historiador, Europa tomou liderança da crise

Segundo Kennedy, que é autor do célebre livro "Ascensão e queda das grandes potências", publicado em 1988, os EUA já perdiam poder econômico mesmo antes da crise atual e hoje a economia mundial tem pelo menos quatro grandes players: Europa, o Japão e a China, na Ásia, além dos EUA.

- Pudemos notar que, para conseguir lidar com a crise, não se poderia deixar a tarefa exclusivamente para o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) de Nova York. Isso tinha que ser feito em cooperação entre os bancos centrais da comunidade financeira internacional. E que a liderança foi tomada pelos bancos centrais europeus antes que o dos EUA - observou, sobre a reação das autoridades monetárias européias diante das hesitações do governo George Bush em encarar a gravidade da situação. - Penso que já podemos dizer que, se esse período unipolar efetivamente existiu, já não existe mais.

A iniciativa dos BCs europeus, na avaliação de Kennedy, dá um contorno da nova arquitetura que o sistema financeiro nacional terá depois da crise.

- Também por mostrar essa situação multipolar, com a combinação dos bancos centrais das oito, ou dez, maiores economias trabalhando em conjunto para controlar os fluxos de capital, regulando e fixando preços dos ativos.

Malan, por sua vez, disse que, no novo contexto multipolar, o Brasil devia exercitar mais seu poder de influenciar e persuadir, ampliando sua participação no debate das questões econômicas mundiais.

- Somos parceiros de uma discussão de cooperação econômica, sem a qual não superaremos as dificuldades atuais e as que virão adiante - disse Malan.