Título: Bolsa cai 7% e já anula três anos de ganhos
Autor: Frisch, Felipe; Rangel, Juliana
Fonte: O Globo, 25/10/2008, Economia, p. 33

Unibanco antecipa divulgação de resultados no trimestre para exibir lucro 5,6% maior. Ibovespa recua 51% no ano.

RIO e SÃO PAULO. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) teve ontem mais um dia de negócios ao sabor do pessimismo global, impulsionado pela contração da economia no Reino Unido. Nos primeiros 30 minutos após a abertura, o Índice Bovespa (Ibovespa) caía mais de 8%, encerrando o dia em queda de 6,91%, aos 31.481 pontos, de volta aos níveis de novembro de 2005. Com isso, anulou os ganhos obtidos em 2008, 2007 e 2006.

Na semana, o índice só teve alta na segunda-feira. De lá para cá, acumulou queda de 20,18%, ou quase 8 mil pontos. No mês, a perda já supera 36% e, no ano, é de 50,72%. As ações da Petrobras caíram 10,13%, pelas quedas fortes do petróleo. O movimento de recuo foi acentuado pelo fato de ser véspera de fim de semana: muitos investidores não querem correr o risco de ter ações em carteira e saírem novas notícias no período.

Nem o lucro da Vale, de mais de R$12 bilhões no terceiro trimestre, anunciado na noite de quinta-feira, deu alívio aos papéis da mineradora, que caíram 5,36% ontem.

- Nesse momento, é tudo absolutamente irracional, os preços (das ações) estão aviltados. O mercado está sem parâmetro, não se consegue enxergar nada - disse o economista-chefe da corretora Ágora, Álvaro Bandeira.

O pessimismo é tão grande que o Unibanco decidiu antecipar a divulgação do balanço do terceiro trimestre - que só sairia em 6 de novembro - para ontem. Os papéis do banco chegaram a cair 22,61%, mas tiveram recuperação parcial e encerraram em queda de 8,69%. No mês, as perdas acumuladas são de 8,69%. As ações do Itaú caíram 10,67%, as do Bradesco, 7,36%, e as do Banco do Brasil, 2,60%.

O Unibanco obteve lucro líquido de R$704 milhões entre julho e setembro, alta de 5,6% frente ao mesmo período de 2007. Em nove meses, o ganho soma R$2,2 bilhões, 16,8% acima de igual período do ano passado. O Unibanco também informou sua real exposição em operações de derivativos de câmbio com opção, conhecidas como target forward. O valor dessas operações, que em 30 de setembro era de R$336 milhões, agora soma R$1 bilhão.

Segundo o vice-presidente corporativo do Unibanco, Geraldo Travaglia, esse montante está dividido entre 33 empresas exportadoras de grande porte, clientes de longa data. E corresponde ao que teriam de pagar se todas as posições fossem liquidadas ontem. O prazo médio dos vencimentos dessas operações, contudo, é de quatro meses.

- Dá uma dívida média de R$35 milhões por empresa - disse Travaglia, acrescentando tratar-se de grandes exportadores, com classificação de crédito de primeira linha e faturamento entre R$500 milhões e R$5 bilhões.

- O banco não está exposto a risco cambial - disse Travaglia, contando que na terça-feira teve de pedir autorização à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para desmentir boatos de que o banco estaria por trás das transações da Aracruz com derivativos, que geraram perdas de quase R$2 bilhões.

Unibanco quer comprar parte da AIG em "joint venture"

No fim de setembro, a carteira total de créditos do Unibanco somava R$74,3 bilhões, 32,9% acima de igual período de 2007. Os ativos totais somavam R$178,5 bilhões (alta de 33,3%), o patrimônio líquido, R$12,9 bilhões, e a rentabilidade (retorno sobre o patrimônio líquido anualizado) ficou em 24,4%.

Travaglia disse ainda que o Unibanco já apresentou proposta formal para comprar a participação da AIG na joint venture de seguros e previdência em que são sócios. Agora espera uma definição do Federal Reserve (o banco central americano), que assumiu o controle da AIG. O Unibanco informou também ter dobrado o limite de ações que pode adquirir por seu programa de recompra: de 20 milhões para 40 milhões.

A divulgação antecipada do Unibanco foi bem recebida por investidores e operadores, bem como os números do banco.

- As ações do Unibanco vinham sendo mais punidas que a média - disse um analista do setor, acrescentando, porém, que os dados vão até setembro e a grande preocupação do mercado é com os números a partir de outubro, quando a crise se agravou.

No Brasil, as vendas de ações podem ter sido aceleradas pela chamada de margem promovida pela Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) na véspera, aumentando em 50% a garantia depositada exigida das instituições que operam no mercado de câmbio contratos com vencimento em novembro. Com isso, as empresas precisam fazer caixa para deixar na BM&F.