Título: Bovespa sobe 7,47% e dólar cai para R$2,10
Autor: Rangel, Juliana
Fonte: O Globo, 31/10/2008, Economia, p. 28

Na semana, moeda já acumula queda de 9,54%. Bolsas americanas e européias também fecharam em alta

Juliana Rangel*

RIO e NOVA YORK. Impulsionada pela notícia de que a economia dos Estados Unidos desacelerou menos que o esperado, e por medidas anunciadas um dia antes para trazer tranqüilidade ao mercado, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) viveu ontem o terceiro dia seguido de forte alta. O Ibovespa, seu principal índice, subiu 7,47%, para 37.448 pontos. Em três dias, os ganhos acumulados foram de 27,2%, com uma recuperação de mais de 8 mil pontos. Já o dólar caiu 1,77%, para R$2,105. Na semana, a queda é de 9,54%.

Segundo o economista-chefe da Ágora, Álvaro Bandeira, os investidores já iniciaram o pregão aliviados. No dia anterior, o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) havia feito um corte de 0,5 ponto percentual na taxa de juros do país, para 1% ao ano. Além disso, anunciou acordos para conceder empréstimos a outros bancos centrais, inclusive o do Brasil, para garantir a liquidez dos mercados.

Mas a melhor notícia da jornada foi sobre o PIB (soma de bens e serviços produzidos) dos EUA. O indicador recuou 0,3% no terceiro trimestre, na comparação anual. Analistas esperavam desaceleração maior, de 0,5%. Apesar da leitura positiva, o mercado de commodities sentiu os efeitos do temor de recessão: o preço do barril de petróleo leve negociado nos EUA caiu 2,3%, para US$65,96. Em Londres, o Brent recuou 2,6%, a US$63,71.

- Também saíram resultados bons de Shell, Exxon e Motorola, o que ajudou a puxar as bolsas lá fora - disse Bandeira.

Seguindo decisões do Fed e do BC da China, os bancos centrais de Hong Kong e Taiwan reduziram suas taxas de juros. A expectativa é de que o Japão faça o mesmo hoje.

As medidas trouxeram mais alívio ao crédito. Segundo o Fed, o mercado de commercial papers (papéis privados emitidos por empresas que desejam captar, com prazo de três meses) cresceu na semana passada, na primeira expansão em quase dois meses. Além disso, a Libor, taxa que baseia empréstimos interbancários em Europa e EUA, caiu de 1,14% para 0,73% ontem, nas operações de um dia.

A melhoria do ambiente ajudou a puxar as bolsas no mundo: o índice Dow Jones, de Nova York, subiu 2,11%. O Nasdaq, 2,49%. Na Europa, a Bolsa de Londres subiu 1,16%, acompanhado por alta de 1,26% da Bolsa de Frankfurt. Já a de Paris fechou com ganhos de 0,15%.

No Brasil, a recuperação foi generalizada. Na máxima do dia, o Ibovespa subiu 7,87%, com rumores de que uma emenda à medida provisória 442 (que autoriza o BC a receber carteiras de crédito como garantia de empréstimos a bancos) teria sido votada no Senado, o que não aconteceu. A emenda sugere a suspensão do aluguel de ações por um prazo de 180 dias, até que o mercado se normalize.

Ação da Aracruz subiu 24,37%, a maior alta da Bolsa

Por esse mecanismo, o investidor que acredita na queda aluga um papel para vendê-lo no mercado. Depois, recompra a ação a um preço mais barato para devolvê-la ao dono.

- Muitos fundos de investimento operam com esse mecanismo - disse um analista.

Com valorização de 24,37% e volume de R$26,5 milhões, as ações da Aracruz tiveram a maior alta da Bolsa. Os papéis já caíram mais de 90% desde o fim de setembro, quando a empresa anunciou perdas com operações com câmbio no mercado futuro que podem chegar a US$2,5 bilhões. A Aracruz está em vias de fechar um acordo com bancos de renegociação de sua dívida e deve divulgar uma nota nos próximos dias.

No câmbio, o Banco Central vendeu US$979,3 milhões em contratos de swap cambial (em que, na prática, vende dólares no mercado futuro) e vendeu mais US$860 milhões aos bancos, ao câmbio de R$ 2,127, com recompra programada.

(*) Com agências internacionais