Título: Paes e Cesar acertam transição
Autor: Tabak, Flávio ; Magalhães, Luiz Ernesto
Fonte: O Globo, 29/10/2008, O País, p. 3

Futuro e atual prefeito fazem acordo para aprovar projetos de interesse da nova gestão

Flávio Tabak, Luiz Ernesto Magalhães e Sérgio Duran

Oprefeito Cesar Maia (DEM) se comprometeu ontem a orientar sua base aliada na Câmara dos Vereadores para que vote de acordo com os interesses de seu sucessor, Eduardo Paes (PMDB). O acordo foi selado durante reunião, no Palácio da Cidade, entre Cesar e Paes, rompidos politicamente desde 2002. Ficará sob a responsabilidade do líder do atual governo, Paulo Cerri (DEM), a tarefa de conversar com a bancada. Paes confirmou a promessa de Cesar ao sair do encontro.

- O prefeito se comprometeu a disponibilizar o apoio de sua bancada na Câmara para eventuais mudanças que precisaremos fazer - disse Paes, que, em determinado momento da entrevista, se referiu a Cesar como "ex-prefeito": - A relação que eu e Cesar temos é de prefeito eleito e ex-prefeito.

O futuro secretário-chefe do Gabinete do prefeito e coordenador da transição, deputado Pedro Paulo Carvalho (PSDB), disse que as modificações no Orçamento de 2009 serão facilitadas pelo acordo feito ontem:

- Teremos um conjunto de primeiros decretos para o ano que vem, mas o Orçamento será votado este ano. O prefeito se comprometeu que a bancada inteira votará conosco. Conversamos sobre isso com o líder do governo, Paulo Cerri.

Na prática, o prefeito Cesar Maia já não tem mais controle total sobre sua base. Domingo à noite, na festa da vitória no comitê de Paes, vereadores do PMDB calculavam ter assegurado a maioria - de 28 a 30 votos (são 50 vereadores) - para impedir a aprovação de qualquer projeto que possa contrariar os interesses do prefeito eleito. Uma das preocupações do PMDB era o impacto que teria, nas contas da prefeitura, a incorporação de gratificações aos salários de quase 90 mil servidores da administração direta, que atualmente perdem o direito quando se aposentarem. O projeto, entre outros que propõem aumentos para algumas categorias de servidores, foi encaminhado ao Legislativo em setembro, já em plena campanha.

"Não houve constrangimento"

O prefeito eleito disse que também pretende ir à Câmara de Vereadores para começar a negociação em torno do Orçamento de 2009:

- Informei a ele que irei à Câmara de Vereadores para discutir a questão do Orçamento e dos projetos existentes. Combinei com o prefeito de manter contato para qualquer eventualidade. Não houve constrangimento, ele entende a crítica política. Não fiz crítica pessoal em relação a ele, que é um político experiente e sabe que o debate político precisa acontecer. Não concordamos em tudo. Se concordássemos, seria o candidato dele.

Além dos votos na Câmara, a prefeitura vai ceder um técnico por secretaria para trabalhar na transição. Ainda no segundo turno, Cesar tinha nomeado, por decreto, três servidores para acompanhar o processo: o subcontrolador de gestão da Controladoria Geral do Município, Vinicius Costa; o subcoordenador-geral da Procuradoria do município, Marcelo Moreira Marques; e o subsecretário de Tributação e Fiscalização da pasta da Fazenda, Domingos Travaglia.

Pedro Paulo ainda não escolheu os três auxiliares que o ajudarão na transição, mas o 13º andar do prédio da Fundação Getulio Vargas - que fora usada pelo governador Sérgio Cabral antes de assumir - está reservado para os trabalhos. Além do Orçamento, outro ponto que será discutido entre vereadores e o futuro governo é a liberação de emendas. Atualmente, Cesar Maia dificulta o repasse dos recursos, estimados em R$6 milhões por vereador. A intenção do novo governo é liberar mais emendas.

A reunião aconteceu no segundo andar do Palácio da Cidade. Quando Paes entrou, Cesar levantou-se e cumprimentou o prefeito eleito pela vitória. O encontro foi regado a água mineral e café, servidos por Giuliano, o garçom que atende os prefeitos do Rio há quase 30 anos. Em um determinado momento, o prefeito disse a Paes:

- Eduardo, faço questão que a transição seja feita no mesmo clima civilizado e de cooperação como ocorreu entre o presidente Fernando Henrique e o presidente Lula.

Paes respondeu ao ex-aliado e atual adversário político:

- Prefeito, essa é a forma que eu entendo que tem que ser.

O fim do expediente na sede social da prefeitura, que termina às 19h, foi antecipado. Os mais de 50 servidores lotados no palácio se surpreenderam ao ser liberados às 15h, duas horas antes do horário previsto para a reunião. O tratamento dado ao prefeito eleito foi protocolar: ele e sua equipe foram recebidos pelo coordenador das Relações Internacionais e do Cerimonial, embaixador Raul Fernando Belford Roxo Leite Ribeiro. O encontro só pôde ser registrado por fotógrafos e cinegrafistas. Ainda quando Paes dava entrevistas, Cesar Maia saiu discretamente de carro pela porta dos fundos, sem falar com a imprensa.

Há quase dois anos, quando o então senador Sérgio Cabral derrotou Denise Frossard, que tinha o apoio de Cesar para o governo do estado, o tratamento dado pelo prefeito foi diferente. No dia 16 de novembro de 2006, Cabral se reuniu com Cesar, também no Palácio da Cidade, para acertar parcerias que incluíam a municipalização da Linha Vermelha e como seria a transferência da operação do trânsito da PM para a Guarda Municipal.

Hoje Paes vai ser recebido por Lula

Cesar recebeu Cabral na porta do Palácio da Cidade, e os dois subiram juntos para a reunião de trabalho. Depois, deram uma entrevista coletiva lado a lado. Por fim, Cesar desceu para se despedir de Cabral.

Além de Pedro Paulo, Cesar e Paes, participaram da reunião o futuro vice-prefeito, Carlos Alberto Muniz, e técnicos da prefeitura que trabalharão na transição. Hoje de manhã, Paes embarca para Brasília com Cabral, para uma reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.