Título: E o prefeito é...
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Fonte: O Globo, 26/10/2008, O País, p. 3

Na véspera da eleição, pesquisas mostram empate técnico entre Eduardo Paes e Fernando Gabeira, com vantagem para o peemedebista.

Ao ser conhecido hoje o vencedor da eleição, encerra-se uma era de 16 anos de poder do grupo do prefeito Cesar Maia e abre-se um imenso desafio para o escolhido: administrar uma cidade de 6 milhões de habitantes com uma crise na saúde, um reprovado sistema de aprovação automática no ensino público, transporte desorganizado, desordem urbana e 750 favelas que não param de crescer. A disputa entre Eduardo Paes (PMDB) e Fernando Gabeira (PV) será voto a voto, com ligeira vantagem para o peemedebista, segundo as pesquisas.

Pelas consultas do Datafolha e do Ibope divulgadas ontem, Paes tem 51% dos votos válidos (sem nulos, em branco e eleitores indecisos), e Gabeira, 49%. Como a margem de erro é de dois pontos, para mais ou para menos, os candidatos estão tecnicamente empatados, com ligeira vantagem para o peemedebista.

As pesquisas foram feitas na sexta-feira e ontem, por encomenda da Rede Globo e do "Estado de S.Paulo" (no caso do Ibope) e da "Folha de S.Paulo" (Datafolha).

Paes, de 38 anos, e Gabeira, de 67, exibiram propostas semelhantes e estilos muito diferentes para resolver os problemas da cidade, durante 113 dias de campanha. Paes, que entrou tardiamente na disputa, apoiado pelo governador Sérgio Cabral, logo passou à dianteira. Já Gabeira, sem padrinhos no poder, ficou grande parte do primeiro turno em quarto lugar e surpreendeu ao chegar à segunda fase, ultrapassando Marcelo Crivella (PRB).

As diferenças começaram já no estilo de fazer campanha. Gabeira elegeu a internet como principal divulgador de sua candidatura e cumpriu a promessa de não espalhar cartazes nem sujar as ruas da cidade. Já o nome de Paes estava por todos os cantos, em placas, cartazes e imensos outdoors.

No segundo turno, Paes concentrou esforços na busca de alianças - conseguiu a adesão de um amplo arco de 11 partidos, do PCdoB de Jandira Feghali ao PP de Francisco Dornelles, passando pelo PRB de Marcelo Crivella. E, principalmente, empenhou-se em obter uma declaração de apoio do presidente Lula. Para isso, se dispôs até a pedir desculpas, por escrito, pelos ataques ao presidente e a sua família durante as investigações do mensalão, quando era deputado pelo PSDB e integrou a CPI dos Correios.

Gabeira, sem as cúpulas dos partidos, teve de investir em nomes da sociedade e da política. Seu programa de TV contou com uma farta seleção musical, incluindo nomes como Caetano Veloso e Lulu Santos. Ganhou declarações de petistas, como a ex-ministra Marina Silva, à revelia do PT, que optou por Paes.

Foi uma campanha de sinais trocados. Gabeira, o ex-guerrilheiro, militante da ecologia, ficou longe dos partidos da esquerda tradicional, que aderiram à campanha de Paes, um egresso do PFL (hoje DEM) e do PSDB. E Paes, que começou a vida política pelas mãos de Cesar Maia, atacou o criador e tentou colar a imagem do prefeito ao adversário - que recebeu o apoio do DEM no segundo turno. Gabeira, que foi alvejado pela ditadura militar, recebeu cumprimentos de generais. Paes, o candidato católico, foi cercado por evangélicos.

Gabeira também foi obrigado a pedir desculpas neste segundo turno. Ao chamar de "analfabeta política" com "visão suburbana" a vereadora tucana Lucinha, sua aliada, a mais votada da cidade, abriu o flanco para o adversário e produziu a maior polêmica da segunda fase. As últimas pesquisas mostram um eleitorado dividido. A escolha é hoje, e o resultado deve ser conhecido antes das 20h.