Título: Wagner e Geddel recebem Lula em clima tenso
Autor: Suwwan, Leila
Fonte: O Globo, 29/10/2008, O País, p. 8

Governador anunciara que ministro não disputaria governo com ele, mas acordo foi negado

Maria Lima

SALVADOR. Nem mesmo a passagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva por Salvador conseguiu aplacar o clima de beligerância entre o governador Jaques Wagner (PT) e o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima. Na véspera, os dois se reuniram por duas horas e meia na residência oficial de Ondina para tentar um entendimento sobre a disputa pelo governo da Bahia, em 2010, e acertar um pacto de boa convivência durante eventos públicos com o presidente. Mas, logo cedo, minutos depois de Wagner anunciar que obtivera de Geddel a promessa de que não disputaria o governo com ele, e concorreria ao Senado, o ministro, irritado, disse que nada disso fora acertado.

Durante as cerca de oito horas em que ficou em Salvador para participar da 9ª Cúpula Brasil-Portugal, Lula não teve oportunidade de conversar a sós com os dois para pedir que evitassem um racha, que pode levar ao fim da aliança PMDB-PT na Bahia, com reflexos nacionais. Wagner contou que dissera a Geddel que, se a aliança se mantiver até 2010, caberia a ele a vaga do Senado. E que se ele não tivesse interesse na parceria, partindo para um projeto de candidatura própria, o PMDB teria que sair do governo baiano:

- Se ele ficar no governo, tem que ser até 2010. Não há sentido de manter um aliado que está se preparando para uma candidatura contra mim. Estou trabalhando com esse cenário, com Geddel para o Senado.

Geddel: "Ninguém vai selar nada agora para 2010"

Logo depois, Geddel partiu para o ataque: negou que houvesse se comprometido com Wagner a disputar o Senado, e disse que o encontro foi apenas de distensão:

- Ninguém vai selar nada agora para 2010. Tudo que eu disse antes (do sonho de governar a Bahia e que não há alinhamento automático com o PT) continua. Não prometi que só me candidatarei ao Senado. Disse que não tinha projeto acabado para disputar o governo, a distância disso com a palavra prometer é muito grande.

Geddel e Wagner foram à Base Aérea receber Lula. De lá, o governador foi no carro com Lula para o Museu da Misericórdia. Geddel chegou bem mais tarde, ao lado do prefeito reeleito João Henrique. No momento da declaração conjunta do presidente brasileiro e do primeiro-ministro de Portugal, José Sócrates, no átrio da centenária Igreja da Santa Casa de Misericórdia, no Museu da Misericórdia, os dois se sentaram na primeira fila, separados pelos ministros Hélio Costa e Márcio Fortes. Depois seguiram para o almoço em Ondina.

- Lula ficou rindo e perguntando se nós dois já estávamos namorando de novo - contou Geddel.

Lula passou ontem um susto. O Aerolula precisou fazer um pouso não programado 18 minutos após decolar de Congonhas, em São Paulo, rumo a Salvador. Segundo a Aeronáutica, houve uma falha no painel do Airbus A 319 que transporta o presidente. O avião foi vistoriado no Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, e decolou menos de uma hora depois.

Segundo a FAB, uma luz acesa no painel indicava que a porta de carga estaria destravada. A informação não foi confirmada por checagem da equipe de bordo, mas o comandante decidiu interromper o vôo. Lula embarcou às 8h28m no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo. O pouso não programado aconteceu às 8h46m em Guarulhos. O imprevisto atrasou a chegada de Lula a Salvador.