Título: Marta perdeu o eixo da campanha, diz prefeito
Autor: Freire, Flávio
Fonte: O Globo, 26/10/2008, O País, p. 28
Kassab afirma que, se for reeleito, a vitória é de Serra.
O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), afirma que não se considera reeleito "porque as urnas não foram abertas", mas reconhece que dois fatores o favorecem: a aprovação de sua gestão e o que chamou de "campanha equivocada" da adversária Marta Suplicy (PT). Kassab disse que, ao insinuar que ele era homossexual, Marta perdeu "o eixo da campanha". "Foi uma afirmação maldosa, insinuação mentirosa, que quase beirou a calúnia, e preconceituosa", disse Kassab, que não pretende processá-la. Ele admite que sua reeleição seria a vitória do governador José Serra (PSDB), de quem era vice-prefeito, e consolidaria a pretensão do tucano de ser o candidato da oposição em 2010 na sucessão do presidente Lula.
Adauri Antunes Barbosa e Germano Oliveira
O senhor começou a campanha com 8% e não parou de crescer. Quando acha que começou a ganhar a eleição?
GILBERTO KASSAB: Sempre fui otimista em relação à possibilidade de ganhar. Muito cauteloso, humilde, porque essa é a postura correta de qualquer candidato. Mas sentia, e as pesquisas mostravam, que a gestão era muito bem avaliada. Sempre refleti com os colegas de equipe que era difícil que o paulistano não associasse a candidatura à gestão. Já que ele avaliava positivamente a gestão, por que não transformar isso em voto? É o que foi acontecendo. Havia uma chance boa de ir para o segundo turno e, no começo do segundo turno, a própria campanha da minha adversária mostrou a sua preocupação quando, de maneira muito perdida, começou a atirar para todo lado. E é evidente que uma campanha só faz isso quando está desorientada.
Por que sua adversária, Marta Suplicy, passou a atacá-lo?
KASSAB: Diria que perdeu o eixo. Perder o eixo significa, de maneira respeitosa, que ficaram sem discurso, esqueceram que o mais importante é apresentar propostas, o que fazer pela cidade. A única campanha propositiva foi a minha. Isso acabou dando certa confiança ao paulistano em relação à nossa candidatura, porque ele está preocupado com o futuro da cidade.
Considera que ela perdeu a eleição ao fazer insinuações sobre sua vida pessoal?
KASSAB: Não. Foi a falta de debate, de propostas mesmo. No meu caso, se sou solteiro, casado, divorciado, tenho filhos ou não tenho filhos, não é isso que está em jogo. O que está em jogo é o caráter da pessoa, a capacidade e, para quem já ocupou cargo público, o que fez e o que não fez.
Quando a campanha de Marta perguntou se o senhor era casado, se tinha filhos, insinuando homossexualidade, o senhor ficou ofendido?
KASSAB: Ela foi condenada (pela Justiça). Isso mostra que foi um grande equívoco. Foi uma afirmação maldosa, uma insinuação mentirosa, que quase beirou a calúnia. E preconceituosa.
Ela perdeu a eleição aí?
KASSAB: Não. Acredito que ela perdeu a eleição por não discutir o futuro da cidade.
Por que ela fez essa insinuação sobre homossexualismo?
KASSAB: Ela perdeu o eixo da campanha. Fez uma campanha fora do eixo. Uma campanha que não discute propostas está fora do eixo.
O senhor falou em calúnia. Pretende processar Marta?
KASSAB: Não, imagine! Disse porque a campanha foi maquiavélica. Foi uma insinuação mentirosa. Mas isso está ultrapassado, esquece.
Considera-se reeleito?
KASSAB: De maneira alguma. Seria desrespeito com o eleitor. São Paulo tem 8,2 milhões de eleitores. É uma eleição bastante disputada, que vai definir o futuro da cidade para os próximos quatro anos. Estou otimista e feliz. Feliz com os resultados das pesquisas, que mostram que o paulistano avalia de uma maneira muito positiva minha gestão: 60% dos paulistanos entendem que ela é ótima ou boa. Eu identifico as ruas sintonizadas com as pesquisas pelo carinho com que tenho sido recebido. Isso me entusiasma muito.
O senhor é o grande vitorioso na eleição em todo país?
KASSAB: Se eu for reeleito, Serra é o grande vitorioso. Reeleito ou não, todos sabem que Serra tem um projeto nacional. Estarei ao lado dele nesse projeto. Isso é bom para o Brasil. Se eu for reeleito, Serra é o grande vitorioso porque ele foi eleito prefeito há quatro anos e a cidade está avaliando nossa gestão.
Tucanos e DEM devem continuar juntos na eleição presidencial?
KASSAB: É uma aliança muito sólida, que existe na maior cidade do país, no maior estado do país e no plano nacional e que ainda faz oposição ao governo federal. É uma aliança que eu entendo ter um bom projeto para o Brasil, que é o de ter Serra presidindo, com as nossas bandeiras, sua experiência, e que possa, depois de concluído o projeto do presidente Lula, dar seqüência a um projeto de desenvolvimento do país.