Título: Dólar cede 2,50% e BC reduz volume de vendas para baixar a cotação
Autor: Rangel, Juliana
Fonte: O Globo, 29/10/2008, Economia, p. 22

Moeda fechou a R$2,188. Para analistas, mercado de câmbio está mais líquido

Juliana Rangel

RIO e NOVA YORK. No segundo dia consecutivo de queda, o dólar recuou ontem mais 2,50% no Brasil, com a moeda negociada a R$2,188. A melhora no cenário permitiu que o Banco Central (BC) economizasse artilharia: a autoridade monetária fez apenas um leilão de contratos de swap cambial (operação no mercado futuro em que paga ao comprador a variação da moeda e recebe a da taxa básica Selic) e abasteceu o mercado com US$497 milhões.

Segundo o economista da NGO Corretora de Câmbio, Sidnei Nehme, o mercado começa a se tranqüilizar com as medidas adotadas pelo BC para dar mais liquidez a empresas e investidores. A oferta de linhas de financiamento e de swaps, explica, alivia a pressão de especuladores na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F), que estava contaminando o mercado à vista.

- Ainda que sejam graduais, essas intervenções estão surtindo efeito - observou.

A aparente tranqüilidade dos últimos dias foi trazida, especialmente, pela decisão dos bancos nacionais de anteciparem seus resultados - como fizeram Itaú e Unibanco. As cotações estavam pressionadas diante do receio de que tivessem prejuízos em operações com derivativos de câmbio destinadas a empresas exportadoras.

BM&F: perdas com derivativos são inestimáveis

Ontem, o diretor financeiro da BM&F Bovespa, Carlos Kawall, disse em palestra em Nova York que não é possível quantificar as perdas das empresas nessas operações. Sadia e Aracruz anunciaram, juntas, rombos que chegam a R$5 bilhões:

- A maioria dos problemas aconteceu em contratos negociados em balcão (diretamente entre bancos e empresas). Por causa da falta de transparência, ninguém sabe dizer o tamanho do problema - afirmou.

O economista Paulo Vieira da Cunha disse recentemente que essas perdas poderiam chegar a US$28 bilhões, enquanto o Itaú previu US$10 bilhões.

Para Kawall, é preciso criar regras no mercado de derivativos para aumentar a transparência do mercado.

Para Nehme, ainda há "muita gente pendurada" que ainda não reportou perdas. Ele acha que o BC deveria intervir no mercado com mais apetite em dias de calmaria, para forçar uma queda maior da moeda. Ontem, o BC não vendeu no mercado à vista.

No Palácio do Planalto, fontes afirmam que o governo fará o que puder para ajudar a Aracruz, tida por analistas como um dos casos mais problemáticos. Mas a solução terá que ser pelos mecanismos de mercado. Analistas estimam que as perdas da companhia cheguem a US$2,5 bilhões. Só neste mês, suas ações já despencaram mais de 75%.

A diretoria da empresa passou o fim de semana reunida com bancos. Ela pede um desconto de até 60% da dívida. Um executivo que acompanhou o encontro diz que os bancos aceitaram alongar o pagamento em até 15 anos, mas negam o abatimento. A solução pode sair esta semana.

(*) Com Felipe Frisch e Bloomberg News