Título: Há expectativa de que ouçam mais os aliados
Autor: Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 26/10/2008, O Mundo, p. 57

BRASÍLIA. O cientista político David Fleischer acredita que, não importa quem vença as eleições americanas, os primeiros passos da Casa Branca serão dados em função da crise financeira internacional. Temas de interesse do governo Lula, como a imigração, dependem do tamanho da previsível recessão econômica nos Estados Unidos, com queda na produção e aumento do desemprego. Professor da Universidade de Brasília (UnB), Fleischer nasceu em Washington e vive no Brasil há 37 anos.

Como ficam as relações Brasil-EUA após as eleições?

DAVID FLEISCHER: Com a vitória de Obama, o Brasil espera que a América Latina volte a ter alguma prioridade para o governo americano. Há ainda esperança, dentro do governo brasileiro, de que o novo presidente negocie mais acesso aos produtos do Brasil, incluindo o etanol. Mas o mais importante é que ele consiga reverter a crise econômica que já afeta o mundo todo.

E se McCain ganhar?

FLEISCHER: McCain vai manter mais quatro anos a mesma política de seu antecessor.

O que pode acontecer com os imigrantes brasileiros que vivem atualmente nos EUA?

FLEISCHER: É um tema que chegou a entrar, inicialmente, no debate, mas acabou atropelado pela tsunami econômica. Antes imaginava-se que haveria algum alívio para os estrangeiros que já vivem nos EUA, não apenas brasileiros. O problema é que há um clima de recessão econômica e desemprego muito forte. Durante o governo de Bill Clinton, era o contrário, e a mão-de-obra era bem-vinda. Não é que Clinton tenha aberto as portas, mas ele fechou os olhos para a imigração clandestina.

Há esperança de que os EUA voltem a agir multilateralmente depois do Iraque?

FLEISCHER: Existe esta expectativa, sim, de ouvir mais os aliados e levar decisões para o Conselho de Segurança das Nações Unidas. Espera-se que os EUA voltem a jogar corretamente na área internacional.

O presidente Bush sempre insistiu numa posição mais firme do Brasil em relação a vizinhos problemáticos, como Venezuela, Bolívia e Equador. O senhor acredita que essa política se manterá?

FLEISCHER: O que foi feito até agora se deu nos bastidores, informalmente. O Brasil quer retomar sua liderança na América do Sul, mas isso fica difícil se estiver diretamente articulado com os EUA. (E.O.)