Título: FHC critica condução do PAC
Autor: Pereira, Alessandra
Fonte: Correio Braziliense, 07/03/2009, Política, p. 4

Tucano diz que o programa ¿está sendo afogado por falta de competência¿ e que o TSE deveria ¿coibir os abusos que estão em marcha¿ na corrida por 2010. Ainda segundo ele, Lula é ¿indulgente¿ com o MST.

São Paulo ¿ Sem perder a elegância em nenhum momento, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disparou ontem uma metralhadora giratória contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu governo. O arsenal de críticas recaiu sobre as estratégias de combate à crise econômica, passou pela condução do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) ¿ grande aposta de vitrine eleitoral do governo para 2010 ¿ e atingiu até o projeto de um milhão de unidades habitacionais prometido por Lula. Em tarde afiada, o maior líder tucano acusou o governo de ¿falta de seriedade¿, de ¿falta de competência¿ na concretização do PAC e de fazer apenas ¿a propaganda do otimismo¿.

Ao comentar a recente cassação dos governadores da Paraíba, Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), e do Maranhão, Jackson Lago (PDT-MA), o ex-presidente não perdeu a deixa: defendeu que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não julgue apenas fatos passados: ¿Eu acho que deveriam coibir os abusos que estão em marcha já, para evitar que ano que vem, de novo, venham pleitear a anulação de um mandato. Porque um ano ou dois depois que alguém está exercendo, o Tribunal tira o mandato e faz ainda quem perde substituir quem ganha. A legitimidade disso fica muito tênue¿, opinou o tucano. Fernando Henrique fez referência à representação protocolada na Justiça Eleitoral pelo PSDB e pelo DEM com o objetivo de questionar a legitimidade das ações de governo comandadas pela ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, a quem os dois partidos acusam de tentar fazer pré-campanha eleitoral.

O ex-presidente deu as declarações durante o IV Encontro Internacional de Ex-Presidentes Latino-Americanos: Nova Agenda da Democracia, que começou ontem e termina hoje. Em entrevista coletiva, Fernando Henrique jogou pesado contra a política de investimentos em infraestrutura do governo. ¿Na época da bonança não fizemos investimentos efetivos em infraestrutura, não fizemos reformas. Agora faz-se uma espécie de simulação de que basta fazer tudo de uma vez¿, afirmou o líder tucano.

Fernando Henrique usou como exemplo o projeto de um milhão de casas prometido por Lula: ¿É muito mais um efeito de propaganda de otimismo do que propriamente de uma ação consequente, tendo em vista o que virá mais adiante, e, portanto, uma política mais sustentável a médio prazo¿. Segundo ele, os investimentos do PAC representam 1% do Produto Interno Bruto (PIB): ¿É muita onda a respeito de muito pouco¿. E lembrou que dinheiro é o que não falta à concretização das obras do PAC espalhadas pelo país. ¿O PAC não está sendo afogado por falta de recursos. Está sendo afogado por falta de competência¿, disparou Fernando Henrique, acrescentando que ¿não faltam recursos, mas execução de recursos autorizados¿.

Para ele, o governo vem anunciando medidas e transmitindo otimismo à população, mas faz disso, muitas vezes, retórica: ¿Estamos indo dia após dia com medidas de impacto que não se concretizam. O governo não pode deixar de passar uma mensagem de esperança à sociedade, mas não pode ser retórica.¿ E ao defender a adoção de um marco regulatório para investimentos, Fernando Henrique criticou a indecisão do governo. ¿O marco não tem de ser neoliberal ou não-neoliberal. Tem de ser eficiente (...) Todo mundo sabe. Ficam discutindo sem parar regulação porque, no fundo, o governo tem dúvidas sobre se vale ter colaboração da sociedade, ou se é melhor confiar na burocracia. Isso leva a uma certa paralisia¿, alfinetou.

Sem-Terra Fernando Henrique disse ainda que o Movimento dos Sem-Terra (MST) tem cometido ¿abusos¿ e que o governo tem sido ¿indulgente¿ no cumprimento da lei. Segundo ele, o governo está dividido internamente sobre o assunto. ¿O principal problema no caso é que houve uma divisão. O ministro da Justiça, Tarso Genro, justificou que era uma coisa natural que houvesse invasões (...) e o presidente Lula disse que era inaceitável. (...) Esse é o problema. Não se sabe qual é a posição do governo. O pais inteiro sabe que está havendo um abuso enorme.(...) É incompreensível que o governo não se manifeste a favor da lei¿, cobrou o ex-presidente, antes de dizer ser favorável à existência de movimentos como o MST, desde que cumpram a lei.