Título: Aos aliados, os cargos
Autor: Tabak, Flávio
Fonte: O Globo, 28/10/2008, O País, p. 3

Paes descumpre promessa e anuncia primeiro o titular da Casa Civil, em vez do da Saúde

Flávio Tabak e Maiá Menezes

Disposto a contemplar os 13 partidos aliados com espaço em seu governo, o prefeito eleito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), estreou sua lista de nomeações com o nome de um tucano, integrante do partido que apoiou o adversário, Fernando Gabeira. Fiel escudeiro do peemedebista, de quem foi chefe de gabinete, o deputado estadual Pedro Paulo Carvalho (PSDB) ocupará a pasta da Casa Civil e será responsável por coordenar a equipe de transição. Com o anúncio, Paes descumpriu uma das promessas que mais repetia na campanha: para já começar a trabalhar no combate à dengue, nomearia, no dia seguinte à eleição, o secretário de Saúde. Ao ser cobrado pela promessa, desconversou:

- O secretário da transição é importante, né? Ele é preparado e vai, certamente, servir muito ao Rio de Janeiro - disse Paes, reiterando que a Saúde será o grande desafio de sua administração.

Também descumpriu outra promessa - a de que não ocuparia politicamente a máquina administrativa - ao admitir que integrantes dos partidos aliados ganharão cargos, segundo ele obedecendo a critérios de "competência, capacidade de realizar e honestidade". Deputado federal por dois mandatos, Paes brincou ao fingir desconhecer a expressão "porteira fechada" - quando o partido tem sinal verde para ocupar cargos comissionados.

- Porteira fechada? O que é isso? O secretário deve ter liberdade para designar auxiliares. Tenho horror a ficar nomeando as pessoas. Se for bem, permanece. Se não, vai para casa. Vamos conversar, sim, com os partidos que me apoiaram - afirmou Paes.

Cada partido indicará três nomes

A equipe do prefeito eleito começou ontem a avisar aos partidos aliados sobre a estratégia para agrupá-los em seu governo: representantes das 13 legendas informarão a uma comissão formada por três aliados do prefeito a área em que pretendem atuar e indicarão três nomes para essas pastas. Um deles será depois chancelado por Paes. O porta-voz tem sido o vice-prefeito eleito Carlos Alberto Muniz. Nos partidos, as conversas já começaram. O PT do Rio se reúne na quinta-feira para fazer um balanço das eleições e para avaliar o quadro:

- Temos quadros técnicos. Se convidados, devemos indicar nomes - disse o presidente regional do partido, Alberto Cantalice.

No PT, um nome forte é o do vereador reeleito Adilson Pires, ligado ao candidato derrotado do PT à prefeitura, Alessandro Molon. A legenda tende a pedir espaço na área de Habitação ou Assistência Social - pasta que também interessa ao PRB do senador Marcelo Crivella.

No PCdoB, Jandira Feghali, derrotada no primeiro turno e companheira permanente de Paes no segundo, afirma não ter sido procurada pelo prefeito eleito. O PCdoB estaria interessado na área de Esportes.

O PSB, que também aderiu a Paes no segundo turno, prevê, para áreas como Cultura e Ciência e Tecnologia, nomes como o do ex-ministro de Ciência e Tecnologia Roberto Amaral, o do prefeito de Petrópolis, Rubens Bomtempo, e o do ex-presidente do BNDES Carlos Lessa.

- Ele acerta quando entrega as decisões aos partidos. Mas queremos deixar o prefeito à vontade. O PSB quer participar porque tem contribuição a dar - disse Cardoso, secretário estadual de Ciência e Tecnologia.

Ciente da tensa relação com o prefeito Cesar Maia, Paes ligou ontem para o chefe de gabinete do ex-aliado, João Marcos Cavalcanti, pedindo uma audiência com o prefeito. O encontro está marcado para as 17h de hoje, no Palácio da Cidade. Amanhã será a vez de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva receber o peemedebista:

- Vamos pressionar o presidente Lula (por investimentos na cidade) desde o início (da reunião). Mas no bom sentido. Pressão saudável.