Título: Bancos com resultados no azul
Autor: D"Ercole, Ronaldo
Fonte: O Globo, 28/10/2008, Economia, p. 27

Itaú antecipa divulgação de lucro de R$1,8 bi. Bradesco ganha R$1,9 bi

Ronaldo D"Ercole e Felipe Frisch

Depois de o Unibanco antecipar a divulgação de seus resultados na sexta-feira, ontem foi a vez de o Itaú mudar seu cronograma para mostrar ao mercado seu lucro no terceiro trimestre do ano. O banco fechou o período com ganho líquido de R$1,8 bilhão, 25% abaixo do mesmo período de 2007. No acumulado de janeiro a setembro, o lucro do Itaú foi de R$5,9 bilhões, 8,4% menor que os R$6,44 bilhões de um ano antes. O Bradesco, cuja divulgação do balanço já estava prevista para ontem, teve lucro líquido de R$1,9 bilhão no trimestre, 3,24% acima do mesmo período de 2007, mas 4,59% abaixo dos R$2 bilhões do segundo trimestre.

Segundo Milton Vargas, vice-presidente do Bradesco, a queda no lucro ocorreu porque o banco teve que corrigir, a preço de mercado, conforme a legislação, o valor dos títulos que tem em carteira (a maior parte do governo federal). Os papéis com rendimento prefixado foram os mais afetados pela crise financeira global e sofreram desvalorização. Ele afirma que o banco deve recuperar as perdas no vencimento, já que não pretende negociar os títulos em mercado, ou seja, seria um efeito apenas contábil. No acumulado dos primeiros nove meses do ano, o lucro líquido do Bradesco soma R$6,015 bilhões, 3,4% superior aos R$5,81 bilhões do mesmo período de 2007. Vargas disse que o balanço também teve impacto da alta de despesas operacionais, como reajuste salarial.

No trimestre passado, a carteira de crédito do Bradesco atingiu R$197,25 bilhões, alta de 8,6% em relação ao trimestre anterior e de 40,8% sobre o mesmo período de 2007. No Itaú, as operações de crédito somavam R$164,5 bilhões, 10,6% acima das de junho e 44,2% a mais que em setembro de 2007. O presidente do banco, Márcio Cypriano, admitiu haver uma desaceleração no crédito. Mas, segundo ele, a carteira do banco deve fechar o ano com aumento de 29% sobre 2007.

Instituições revelam exposição cambial

Bradesco e Itaú também divulgaram detalhes de suas operações com derivativos, contratos negociados no mercado futuro em que se aposta em uma taxa de câmbio ou juros, por exemplo. Na posição de 23 de outubro, o Bradesco tinha a receber R$960 milhões de 206 clientes que contrataram operações com derivativos tradicionais. Na outra ponta, o banco devia R$655 milhões a 110 clientes. Vargas diz que os valores estão dentro nos limites de cada cliente.

Já o Itaú disse ter exposição de R$2,4 bilhões em operações mais sofisticadas: swap e target forward (a empresa faz duas vezes uma operação de venda de dólar para o banco no mercado futuro), com 96 clientes, uma dívida média de R$25 milhões por empresa. A exposição média dos cinco maiores clientes era de R$184 milhões.

Segundo a Economática, o lucro do Bradesco é o terceiro maior já registrado por um banco de capital aberto brasileiro em um terceiro trimestre. O do Itaú foi o quarto maior. Os valores foram ajustados pelo IPCA.

Os números foram bem recebidos pelos analistas, mas ainda não refletem integralmente o agravamento da crise em outubro, destaca Luis Miguel Santacreu, analista da Austin Rating. Para Patricia Branco, sócia da Global Equity, os investidores agora estarão atentos ao aumento da inadimplência e seu impacto nas provisões para perdas.