Título: O Rio é de Paes e de Cabral
Autor:
Fonte: O Globo, 27/10/2008, O País, p. 3

Com a cidade partida ao meio e alto índice de abstenção, candidato do PMDB é eleito prefeito

Com a cidade partida ao meio, Eduardo Paes (PMDB), de 38 anos, foi eleito ontem prefeito do Rio, derrotando o adversário do PV, Fernando Gabeira, por apenas 55.225 votos - menos que um Maracanã. Com todas as urnas apuradas, Paes teve 1.696.195 votos (50,83%), contra 1.640.970 (49,17%) de Gabeira. Foi a disputa mais acirrada da história da cidade.

O alto índice de abstenção pode ter ajudado a garantir a vitória de Paes: nada menos que 927.250 eleitores, ou 20,24% do total, deixaram de votar ontem, reforçando a polêmica sobre o feriadão deste fim de semana, decretado pelo governador Sérgio Cabral (PMDB), patrocinador da candidatura de Paes. O feriado pelo Dia do Servidor Público é amanhã, terça-feira, mas Cabral puxou para segunda, o que levou muitos cariocas a pegar a estrada, deixando de votar. No primeiro turno, em 5 de outubro, o índice de abstenção na capital fora de 17,91%.

A apuração no Rio foi recorde, apertada do começo ao fim, mas uma das primeiras a serem concluídas no país. Mostrou uma cidade rachada: Gabeira venceu com folga na Zona Sul, onde teve 70,88% dos votos contra 29,12% de Paes. Mesmo assim, o alto índice de faltosos na região pode ter prejudicado o verde: 25% dos moradores da Zona Sul deixaram de votar, um índice maior que a média da cidade. Paes, como era esperado, venceu na Zona Oeste (57,26% a 42,74%), onde a abstenção foi bem menor que na Zona Sul: 17%. Gabeira também ganhou no Centro e na Zona Norte.

Apurados os votos, Gabeira foi o primeiro a falar, num hotel de Copacabana. Reconheceu a derrota, parabenizou o adversário, agradeceu ao povo do Rio e disse que os compromissos que assumiu na campanha continuarão de pé. Prometeu ajudar, desde logo, na prevenção da dengue. "Esta é a minha primeira tarefa", disse.

Paes falou em seguida, em sua casa, na Barra. Apareceu ao lado de um Cabral emocionado. Dedicou a vitória ao governador e prometeu:

- O Rio vai melhorar. O Rio vai ficar muito melhor - disse, reiterando os planos de parcerias com o governo do estado e o governo do presidente Lula.

Mais cedo, ao comentar a pesquisa de boca-de-urna do Ibope, que dera 51% a 49% a seu favor, Paes cantarolou a música "Emoções", de Roberto e Erasmo Carlos:

- Vai ser voto a voto. Tenho certeza de que a população escolheu o que há de melhor para o Rio.

Os desafios do prefeito eleito são enormes, após 16 anos do grupo de Cesar Maia: desordem urbana, trânsito caótico, saúde em crise, educação de baixa qualidade, déficit habitacional, mais de 750 favelas, muitas delas em áreas de proteção ambiental. Paes tem pouco mais de dois meses para preparar a transição. A partir de 1º de janeiro, terá de enfrentar um Rio de problemas, além do desafio de unir a cidade.