Título: FH diz que Serra sai à frente de Aécio para 2010
Autor: Aggege, Soraya
Fonte: O Globo, 27/10/2008, O País, p. 19

Ex-presidente afirma que sonha com chapa puro-sangue tucana e que PT perdeu controle nos grandes centros

Soraya Aggege

SÃO PAULO. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem que, com a vitória de Gilberto Kassab para a prefeitura de São Paulo, o governador paulista, o tucano José Serra, saiu na frente do colega mineiro, Aécio Neves, na disputa interna do PSDB pela candidatura à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2010. Fernando Henrique não disfarçava seu contentamento com a reeleição de Kassab, que desde o primeiro turno teve o apoio irrestrito de Serra, mesmo com o ex-governador Geraldo Alckmin concorrendo pelo PSDB.

- Sem dúvida alguma, o Serra sai bastante fortalecido - disse o ex-presidente, ressalvando que seria precipitado já apontar o governador como o candidato para 2010. Para, em seguida, disparar: - Mas, visto do ângulo de São Paulo, sim (Serra estaria à frente de Aécio Neves).

"Estou numa torcida danada pelo Gabeira", disse tucano

O ex-presidente ponderou que também esperava bons resultados do candidato de Aécio, Márcio Lacerda (PSB), à prefeitura de Belo Horizonte:

- Certamente, houve um fortalecimento do governador de São Paulo, por causa do relacionamento estreito que os dois têm (Kassab e Serra). Isso é positivo. Mas imagino que, em Belo Horizonte, o candidato do governador Aécio ganhe as eleições também. O que mostra que o PSDB tem força eleitoral, tem pessoas capazes de mobilizar opinião - disse ele, que manifestou apoio ao candidato Fernando Gabeira (PV), aliado ao PSDB no Rio: - Eu estou numa torcida danada pelo Gabeira (mais tarde, derrotado por Eduardo Paes (PMDB).

O ideal na corrida eleitoral de 2010, na avaliação do ex-presidente, seria uma chapa puro-sangue do PSDB, reunindo os dois pré-candidatos tucanos:

- Esse seria o meu sonho (Serra e Aécio, como vice). E também pode ser vice-versa (Aécio e Serra, como vice), mas é o meu sonho. Uma coisa é sonhar, outra é ser realista. Há os objetivos legítimos de cada um, como as outras forças se posicionam, quem de fato serão os adversários, se o presidente vir a insistir no nome da ministra (da Casa Civil) Dilma (Rousseff). Tem tempo ainda, né?

Para Fernando Henrique, o PSDB deverá ter uma definição sobre o pleito de 2010, sem se perder em discussões internas e se mantendo na "vanguarda" diante dos aliados, como o DEM.

- Temos que ver o que aconteceu aqui em São Paulo, o que aconteceu no Rio. A própria população vai dando as sinalizações de quem representa melhor a sua aspiração. O PSDB não precisa se precipitar, porque isso virá com naturalidade, pelas pesquisas, pelas posturas. Temos bons candidatos, e não vou excluir nenhum deles neste momento - disse, defendendo as alianças do partido. - Ninguém ganha eleição nem governa com um só partido. O PSDB tem que estar sempre com um posicionamento, dizendo o que vai fazer, o que pensa, na vanguarda e com gestos, atitudes.

Momentos antes de iniciar uma reunião com Kassab ontem em sua casa, o ex-presidente adiantou que as animosidades criadas entre os tucanos apoiadores de Alckmin, derrotado no primeiro turno, e o DEM serão superadas. Seu partido, disse, deverá continuar participando da nova gestão de Kassab.

- Eu tenho tranqüilidade quanto a isso (o fim das animosidades entre os aliados). Absolutamente, temos que ver o bem para a cidade de São Paulo. Não é o DEM, é o bem. Temos que apoiar o bem para a cidade de São Paulo - disse, sorrindo.

PT: forte nos setores que não são os mais dinâmicos

Segundo o ex-presidente, o compartilhamento entre o PSDB e o governo Kassab passara inclusive pela composição do secretariado:

- Não tenho dúvida (da participação do PSDB no governo), porque ele (Kassab) é um homem inteligente que viu que deu certo. Por que iria mudar?

Segundo ele, os resultados das urnas em todo o país devem demonstrar que o PT perdeu espaço, comparando o partido com o antigo PFL e o PDS. Para Fernando Henrique, o resultado mais importante das urnas seria esse:

- Ganhe quem ganhar, o importante é que o PT perdeu o controle dos grandes centros do Brasil. Ele substitui de uma maneira o antigo PFL no Brasil, o antigo PDS: (é) forte nos setores do Brasil que não são os mais dinâmicos.

Sobre o fato de o PT ter conquistado prefeituras importantes e o PSDB perdido algumas, Fernando Henrique respondeu:

- É o que estou dizendo: prefeituras importantes o PT não ganhou. Pode ser que tenha algumas, é natural e democracia é isso, há um pluralismo. O que é ruim é quando há uma espécie de avalanche: só um, só um. Isso não vai acontecer.

O tucano destacou ainda que o presidente Lula não transferiu votos a seus candidatos, como a ex-prefeita paulistana e ex-ministra petista Marta Suplicy.

- Não só aqui (em São Paulo) está se vendo que o que se imaginava, que o presidente Lula ia fazer uma eleição facílima, que elegeria um poste, não aconteceu. E isso é bom. Não por ser o presidente Lula, mas porque o eleitor escolhe. Isso é que é importante no Brasil: o eleitor forma opinião. E forma pelos atos, pelos gestos, pela campanha e pelos apoios, mas o importante é que aponta os candidatos, e Kassab foi um bom candidato - disse ele.

"Entre quem apoiou a Marta há atraso a dar com pau"

Perguntado sobre as críticas da candidata petista, Marta Suplicy, sobre as origens do DEM, na ditadura militar e no conservadorismo, Fernando Henrique rebateu:

- Isso é demagogia. Não vou falar, mas entre quem apoiou a Marta há atraso a dar com pau. Isso é jogo eleitoral, não tem importância.

Fernando Henrique fez as afirmações logo depois de votar, no Colégio Sion, próximo de sua casa, em Higienópolis. Ele disse que voltou sábado de uma viagem ao México apenas para votar em Kassab, e embarcaria para a África do Sul ainda ontem, depois da reunião em sua casa.

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