Título: Marta: Ele era sempre tratado como bonzinho
Autor: Aggege, Soraya ; Farah, Tatiana
Fonte: O Globo, 27/10/2008, O País, p. 20

Petista insiste em afirmar que sofreu concorrência desleal e diz que agora eleitores devem cobrar promessas

Soraya Aggege e Tatiana Farah

SÃO PAULO. A candidata do PT à prefeitura de São Paulo, Marta Suplicy, admitiu a derrota por volta das 19h de ontem e telefonou para o prefeito Gilberto Kassab (DEM), parabenizando-o pela vitória. Em rápido pronunciamento à imprensa, na porta de casa, ela agradeceu os apoios e frisou que agora caberá ao povo fiscalizar e cobrar as promessas. Um dos coordenadores de sua campanha, deputado Jilmar Tatto (PT-SP), disse que o PT cobrará pontualmente as promessas de Kassab, como de não reajustar as tarifas de ônibus e construir corredores para o transporte coletivo.

- Cabe ao povo de São Paulo fiscalizar e cobrar os compromissos assumidos pelo novo prefeito. De minha parte, desejo o melhor para nossa cidade- disse a petista, após agradecer aos milhões de eleitores e apoiadores.

Tatto foi duro nas críticas ao adversário. Segundo avaliou, houve uma conspiração das "elites paulistanas" contra a candidatura de Marta:

- Foi uma frente das elites de São Paulo para derrotar uma candidata do PT.

Ele disse que a disputa política foi acirrada, desonesta e marcada pelo uso das máquinas administrativas do município e do estado, comandadas respectivamente por Kassab e pelo governador José Serra (PSDB). Segundo Tatto, a Justiça Eleitoral não agiu de maneira equilibrada, favorecendo Kassab com direitos de respostas e ignorando os pedidos da petista.

- Até empresas privadas fizeram propaganda indireta para Kassab - disse Tatto.

Já o candidato a vice de Marta, deputado Aldo Rebello (PCdoB-SP), avaliou que o adversário merece respeito:

- A decisão final foi porque o adversário reuniu mais forças, mais aliados e melhores condições de vencer. E isso deve ser respeitado.

Críticas à Justiça Eleitoral

Pela manhã, antes de votar, Marta afirmou que a campanha de Kassab desqualificou sua imagem "o tempo inteiro". Queixou-se de suposto tratamento desigual da Justiça Eleitoral às duas candidaturas.

- Fomos sempre penalizados e eles, raramente. Minha imagem durante a campanha foi sempre desqualificada. E nada foi feito. Ele (Kassab) era sempre tratado como um rapaz bonzinho, porque (o ataque) não saía da boca do candidato. Mas das musiquinhas. Não era uma coisa de frente. Achei que foi uma campanha bastante desqualificadora. O tempo inteiro.

A candidata explicou por que mudou a estratégia nos dois turnos da campanha:

- No primeiro turno, como tínhamos uma candidatura tranqüila, partidária, focamos em elaborar propostas. Foi um turno para recuperar a cidade em termos de necessidades. Em relação aos adversários, havia um campo tão minado entre eles e todos tão contra a nossa candidatura, que não valia a pena ficar batendo ali. Foi feita a avaliação de que seria melhor fazer as propostas.

No segundo turno a campanha petista decidiu, entre os comerciais, apelar para perguntas mais pessoais sobre Kassab. Em uma das propagandas, o locutor perguntava ao eleitor se ele conhecia o prefeito. "É casado? Tem filhos?" O comercial foi entendido como sugestão de homossexualidade e provocou polêmica, principalmente por Marta ter sido defensora das liberdades das minorias. Marta negou ter visto a propaganda antes de ela ter ido ao ar, mas manteve a equipe do marqueteiro João Santana no comando.

- O final da campanha realmente sobe o tom. Acredito que não subimos o tom primeiro - defendeu-se ela.

Seus apoiadores diziam ontem que ela deve usar o "capital político" para disputar o governo do estado.

- Quem sai de uma disputa na cidade de São Paulo com 40% dos votos tem muito futuro - disse o coordenador da campanha petista, deputado Carlos Zaratini (PT-SP). Para Tatto, Marta deve candidatar-se em 2010:

- O patrimônio político que foi conquistado por Marta é muito respeitável - disse.

A votação da candidata foi marcada por uma confusão com os integrantes do programa de humor "Pânico", da Rede TV. Fantasiados de Gilberto Kassab (DEM) e Supla, o filho roqueiro de Marta, integrantes do programa tentaram entregar uma medalha de prata à ex-prefeita.

- Adoro concorrer com a Marta porque ela sempre perde - brincava o falso Kassab.

Marta chegou de carro por volta das 10h30m e foi abordada por jornalistas, cinegrafistas e pelo "Pânico". Sorrindo e acenando, entrou na escola e conseguiu se desvencilhar da confusão para votar.