Título: O PT vai sair mais forte do que entrou
Autor: Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 27/10/2008, O País, p. 27

Presidenciável, Dilma comemora resultados, apesar da derrota de Marta e Maria do Rosário em SP e Porto Alegre.

PORTO ALEGRE. Presidenciável mais forte do PT no momento, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, revelou-se ontem bastante encantada com a experiência do contato pessoal com o eleitor nesses três meses de campanha eleitoral. Ela se envolveu diretamente nas campanhas das candidatas do PT em Porto Alegre, Maria do Rosário, e em São Paulo, Marta Suplicy. Mesmo com a derrota das duas, ontem, Dilma avaliou como vitoriosa a campanha do PT em todo país, disse que a campanha não foi nacionalizada, como pretendiam setores da oposição, e reconheceu que a transferência dos votos do presidente Lula não foi automática, como desejaram muitos candidatos governistas. A ministra acompanhou Maria do Rosário num café da manhã onde foram servidos doces vermelhos em formato de estrelas. Mais à vontade e sorridente do que esteve no primeiro turno, apesar das dificuldades do PT na capital, Dilma deu entrevista no comitê petista.

Cristiane Jungblut

Como a senhora acha que o PT se saiu nestas eleições?

DILMA ROUSSEF: O PT ganhou em muitas cidades médias e grandes. Aqui, em Porto Alegre, achamos que vamos fazer todo o cinturão da Região Metropolitana. No Brasil inteiro, a característica do voto do PT é de cidades médias para grandes. Ganhamos, sobretudo, nesse eleitorado.

Mas o PT não está bem em São Paulo e Porto Alegre.

DILMA: Acredito que, em qualquer circunstância, o PT vai sair mais forte do que entrou. É o dado positivo para nós. De outra parte, há o fato de que o país é uma democracia consolidada, temos uma geração até que não conheceu a ditadura.

A senhora pegou gosto pelo palanque?

DILMA: Acho bastante interessante a campanha, é uma oportunidade de conhecer o povo brasileiro e tem manifestações absolutamente diferenciadas de estado para estado. Enquanto você tem uma campanha animada por músicas populares, de ritmos bem agitados no Nordeste e no Norte, você tem no interior de São Paulo e Santa Catarina, no Sul, um outro tipo de campanha. Mas em todas elas há uma dedicação, uma participação do povo brasileiro de uma forma muito importante, porque o grande agente sujeito da democracia é o povo brasileiro.

Do que a senhora gostou mais? De fazer corpo-a-corpo ou de estar em cima de um palanque?

DILMA: Cada uma dessas atividades tem suas características. No corpo-a-corpo, que é a carreata, a caminhada, acho muito interessante, porque se vê uma manifestação mais espontânea. O comício já é uma coisa um pouco mais distante, mas tem seus méritos.

Foi um ensaio para 2010?

DILMA: É uma eleição municipal. Hoje vou me ater ao aspecto municipal desta eleição, não vou tirar ilação a respeito do que ela significa para qualquer momento futuro na história do país.

O PMDB (fiel da balança nas disputas presidenciais) sai fortalecido...

DILMA: Sem dúvida, sai fortalecido o PMDB. E vários partidos da base. O balanço é muito positivo para a base de sustentação do governo Lula. Vimos um aumento significativo dos votos conquistados pela base.

O prefeito de Porto Alegre, José Fogaça, do PMDB, afirma que conseguiu dobrar os recursos na gestão dele (em relação à gestão do PT na cidade).

DILMA: Não discriminamos ninguém. É uma evolução democrática. Isso não significa despolitização. Tenho identidade com a candidata Maria do Rosário, mas as diferenças são marcadas por decisões de gestão.

EM sua opinião, seria preciso minimizar as diferenças para fazer uma aliança para 2010?

DILMA: Olha, minimizar diferenças, eu não diria que é o melhor método. O melhor método para fazer alianças é ver o melhor projeto. Conseguimos (no governo federal) estruturar uma aliança de diversos partidos que é em torno de um programa de desenvolvimento.