Título: O xerife de Paes
Autor: Marqueiro, Paulo
Fonte: O Globo, 01/11/2008, O País, p. 3

Prefeito eleito anuncia que Rodrigo Bethlem será o supersecretário da Ordem Pública.

Juntem-se problemas tão diversos como calçadas tomadas por ambulantes, puxadinhos de restaurantes sobre o passeio, flanelinhas que extorquem dinheiro de motoristas, vans e táxis piratas, ocupações irregulares no morro e no asfalto, ou as irritantes goteiras dos aparelhos de ar condicionado. Agora ponha tudo debaixo de uma mesma secretaria. Pronto: está formado o desafio que o subsecretário estadual de Governo, Rodrigo Bethlem, de 37 anos, recebeu ontem do prefeito eleito, Eduardo Paes. Bethlem, que, como Paes, foi subprefeito de Cesar Maia, comandará a supersecretaria da Ordem Pública.

- Acabou a era do "Ilegal. E daí?" no Rio - disse Paes, referindo-se a uma série de reportagens do GLOBO sobre desordem urbana que ele incorporou como bordão de campanha. - Vamos ter regras claras, definidas.

A nova secretaria, que absorverá órgãos espalhados por outros setores da administração, terá a Guarda Municipal (hoje subordinada ao Gabinete do prefeito), as Coordenadorias de Licenciamento e Fiscalização e a Divisão de Feiras-Livres (atualmente vinculadas à secretaria de Governo) e a regulamentação dos estacionamentos, como o Vaga Certa, hoje no âmbito da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET-Rio), que é ligada à Secretaria municipal de Transportes.

- Esse é um dos papéis que a prefeitura vai desempenhar nessa nova era em que o prefeito deixa de ser comentarista sobre o tema segurança pública. Queremos que a prefeitura cumpra o seu papel na segurança pública da cidade - disse Paes, acrescentando que o novo colaborador trabalhará em conjunto com a Secretaria estadual de Segurança Pública, com a PM e a Polícia Civil.

O convênio com o Detro para fiscalização de Kombis e vans será mantido, mas o assunto também passará para a Ordem Pública. A atividade de flanelinhas será outra preocupação do novo secretário:

- Estacionamento hoje é uma bagunça, uma vergonha. Nosso objetivo não é vender bilhetes, é ter ali uma pessoa responsável.

O "xerife" Bethlem anunciou que pretende criar o Disque-Ordem, um serviço de 0800 pelo qual os cariocas poderão fazer denúncias sobre desordem urbana. Ele disse ainda que o efetivo da Guarda Municipal, hoje em torno de 5.500 agentes, deverá ser ampliado, mas não quis fixar o número de contratações. Paes e Bethlem reafirmaram a intenção de mudar o regime da Guarda, que hoje é celetista, para estatutário.

Paes disse que, em seu governo, a Guarda Municipal também ajudará no policiamento ostensivo, principalmente nos corredores comerciais, pólos gastronômicos e pontos de encontro, como as praças, mas ele descartou a idéia de armar a corporação:

- Acho que rádios de comunicação e a integração entre as forças de segurança já são suficientes.

Bethlem prometeu manter no município as operações deflagradas durante sua gestão no governo de Sérgio Cabral: CopaBacana, IpaBacana, e BarraBacana, que, segundo ele, conseguiram reduzir os índices de criminalidade nos bairros de Copacabana, Ipanema e Barra da Tijuca.

- Essas operações, em primeiro lugar, geram melhoria no ambiente econômico, principalmente no turismo e no comércio, e também produzem uma queda no número de pequenos delitos, como por exemplo o roubo a transeuntes - disse o futuro secretário.

Bethlem não quis dizer qual será o próximo bairro que receberá a operação Bacana, afirmando que a partir de agora será "RioBacana". Mas deu algumas pistas:

- Tijuca, Botafogo, Flamengo, Centro. Há também bairros de subúrbio, como Méier e Bonsucesso, onde precisamos avançar.

Em relação aos ambulantes, que foram uma pedra nas botinas da Guarda Municipal durante a gestão Cesar Maia, Bethlem disse que evitará confrontos usando a inteligência:

- Nós vamos definir as áreas onde pode e onde não pode. Onde não pode, seremos rigorosos, mas evitando o confronto. Buscaremos dar saídas para essas pessoas, como a possibilidade de cursos profissionalizantes.

A secretaria de Bethlem cuidará também das ocupações irregulares. A omissão do município na fiscalização tem gerado uma série de ações civis públicas por parte do Ministério Público estadual contra a prefeitura.