Título: Contra a crise, Vale corta sua produção
Autor: Bôas, Bruno Villas
Fonte: O Globo, 01/11/2008, Economia, p. 27

Empresa freia operações em cinco países e põe 2.300 em férias.

AVale, maior empresa privada brasileira e maior produtora de minério de ferro no mundo, anunciou ontem que vai reduzir a produção em cinco países para adequar-se à desaceleração da economia global. Além de Brasil, serão reduzidas operações em França, Noruega, China e Indonésia. A mineradora vai cortar, a partir de hoje, a produção de minério de ferro em 30 milhões de toneladas métricas anuais no estado de Minas, o que representa 10% do previsto para este ano. Também vai diminuir a oferta de produtos como ferro liga, manganês e níquel. Cerca de 2.300 funcionários no Brasil e no exterior entrarão imediatamente em férias coletivas, o que representa 4% dos 62,6 mil empregados da companhia. No entanto, a Vale informou que manterá os seus investimentos para o próximo ano, de olho numa recuperação futura da economia.

O presidente da Vale, Roger Agnelli, garantiu ontem que as medidas são um "ajuste momentâneo" por causa do "fortíssimo rearranjo" da economia mundial e da retração de 20% da indústria siderúrgica mundial, em média. Agnelli disse que a desaceleração da economia chinesa foi a principal responsável pelos cortes, embora tenha citado o desaquecimento de mercados como Europa, Japão e Coréia. A China hoje representa 20,5% das receitas da Vale, principal mercado da companhia. Segundo Agnelli, algumas siderúrgicas estariam reduzindo a produção em até 40%. O reflexo é uma derrubada dos preços do minério.

- Os preços hoje estão em níveis que não são reais. São preços absolutamente deprimidos, em liquidação - afirmou Agnelli. - Essa crise é forte, é perversa, porque pegou o principal combustível da economia, de qualquer economia, que é o crédito.

Agnelli prevê melhora em 2009

O corte na produção de minério começa hoje com a parada de produção em quatro minas de Minas Gerais. Segundo a Vale, 1.300 empregados dessas unidades entram imediatamente em férias coletivas, com 15 a 20 dias de duração.

- Estamos antecipando férias coletivas nessas operações. São minas mais antigas, que produzem minério com menor qualidade. Não vamos gastar capital de giro para produzir alguma coisa que vai manter no estoque - disse ele.

A Vale também vai paralisar a produção de duas de suas sete plantas pelotizadoras - que transformam minério de ferro em pelotas - no Espírito Santo. Elas entrarão em manutenção, mas não há data para serem retomadas. A produção de pelotas será reduzida em cerca de 20%.

Já a produção de alumínio na Valesul, empresa da Vale em Santa Cruz, no Rio, será reduzida. A unidade terá a produção limitada a 40% da capacidade instalada, de 95 mil toneladas métricas anuais. Segundo Agnelli, o alto custo da energia elétrica - principal insumo da usina - foi decisivo.

Outra medida anunciada foi a paralisação das operações de minério de manganês e ferro ligas no Brasil, entre dezembro e janeiro de 2009. A empresa não detalhou quais seriam as operações interrompidas.

Na França, a planta de ferro ligas, na cidade de Dunkerque, continuará desativada até abril do próximo ano. Na Noruega, a planta de Mo I Rana, que produz manganês, terá a reforma de um de seus fornos estendida até junho de 2009. A Vale vai cortar em 20% a produção de níquel na Indonésia, a partir de hoje, uma redução de 17 mil toneladas métricas. Na China, a refinaria de níquel em Dalian permanecerá operando a 35% de capacidade, de 60 mil toneladas anuais.

As restrições no Brasil, na Noruega e na França reduzirão em cerca de 600 mil toneladas métricas de minério de manganês e 90 mil toneladas métricas de ferro ligas frente ao programado no primeiro semestre de 2009.

Para Agnelli, a crise será intensa nos próximos três a quatro meses, mas as economias começarão a se recuperar já no segundo trimestre de 2009, mesmo que de forma lenta.