Título: Período será de vacas magras
Autor: Vasconcellos, Fábio; Tabak, Flávio
Fonte: O Globo, 02/11/2008, O País, p. 3

Economista especializado em saúde coletiva, o professor da UFRJ Bernardo Sicsú estimou o valor das promessas assumidas por Eduardo Paes com a saúde e separou pontos factíveis dos que classificou como megalomania.

Ao analisar as promessas de Paes voltadas para a saúde, o senhor acredita que elas são economicamente viáveis?

BERNARDO SICSÚ: Todas, não. Algumas são infactíveis. Estamos entrando num período de vacas magras, por causa da crise econômica mundial. Vai ser difícil ter todo o dinheiro que ele imagina. Boa parte dos recursos da prefeitura vem do governo federal, e a economia nacional também começa a sofrer com a crise.

Então a crise econômica será o grande entrave para as realizações de Paes na saúde?

SICSÚ: Não só a crise. O ano de 2009 antecede o ano da eleição presidencial. A tendência é que o governo federal priorize os repasses para intervenções nas superfície, como o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), que aparecem bem mais para o eleitorado do que a contratação de agentes de endemias, por exemplo. E isso pode gerar reflexos na eficácia dos projetos de Paes.

Como o senhor avalia as promessas do prefeito eleito?

SICSÚ: O plano é ótimo, no campo das idéias. Na prática, porém, é megalomaníaco. Ele não vai conseguir construir 40 UPAs (Unidades de Pronto-Atendimento). Em quatro anos, fará umas 10, 15. Num dado momento, encontrará dificuldades para erguer UPAs, enquanto os postos de saúde estarão em mau estado de conservação, pois é muito difícil fazer as duas coisas (manter postos e construir UPAs).

Em qual das promessas a relação custo-benefício é maior? Qual deveria ser prioridade?

SICSÚ: Sem dúvida, a expansão do Programa Saúde da Família.