Título: Governeitos ampliam horizontes de governadores rumo a 2010
Autor: Menezes, Maiá
Fonte: O Globo, 02/11/2008, O País, p. 8

Em Minas, São Paulo e Rio, prefeitos eleitos seguem passos de padrinhos políticos: transição na capital fluminense repete modelo adotado por Sérgio Cabral.

RIO, BRASÍLIA E BELO HORIZONTE. Com pretensões eleitorais em 2010, os governadores do Rio, de Minas Gerais e de São Paulo consolidaram seus domínios nas capitais, depois dos resultado das urnas. As crias políticas de Sérgio Cabral (PMDB), Aécio Neves (PSDB) e José Serra (PSDB) - ou os "governeitos" - se inspiram nos modelos (pessoais e de gestão) de seus tutores e declaram fidelidade eterna.

Ao vencerem as eleições, os prefeitos eleitos do Rio, Eduardo Paes (PMDB), de Belo Horizonte, Márcio Lacerda (PSB), e de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), dedicaram a vitória a seus padrinhos. Os três, nos primeiros gestos que tomaram depois do resultado das eleições, dão sinais de que se inspirarão no modelo de gestão dos governadores, que os aconselham diariamente.

No Rio, a marca de Cabral, visível na campanha eleitoral, ficou também evidente na primeira semana da transição. Ao observar o cronograma de anúncios e medidas do prefeito eleito, a lista de coincidências: assim como o governador, Paes, logo ao saber o resultado da eleição, procurou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o prefeito Cesar Maia. O ritual de escalação do secretariado também obedeceu à mesma lógica da adotada por Cabral em 2006 - primeiro, foi anunciado o do Gabinete Civil, depois o da Saúde.

A equipe de Cabral participou intensamente da concepção da agenda do então candidato Eduardo Paes. Um dos principais idealizadores foi o secretário estadual de Governo, Wilson Carlos.

A vitória do prefeito da capital era considerada prioritária para Cabral, depois da derrota em cidades estratégicas como Nova Iguaçu e Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, e São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio.

Aliado de primeira hora do governador, o secretário foi chefe de gabinete do então deputado estadual Sérgio Cabral, em 1997. Um ano depois, coordenou sua campanha à reeleição. Foi dele a iniciativa, considerada decisiva pelos aliados de Paes, de, na frente dos adversários, iniciar a distribuição de material pró-Paes pelas regiões mais carentes e populosas da cidade, como a Zona Oeste.

Marco Antônio Cabral, de 17 anos, filho do governador, esteve desde o primeiro dia da campanha ao lado do aliado do pai. Ele testemunha a proximidade entre Cabral e Paes:

- Eles ficaram amigos mesmo. O Paes se tornou queridinho do meu pai - atesta Marco Antônio.

O governador e o prefeito eleito rejeitam a condição de criador e criatura. Cabral, perguntado sobre o tema na semana passada, afirmou que cabe a Paes tomar as decisões e que não tem interferência alguma nas decisões do prefeito eleito. Foi com sua companhia, no entanto, que Paes percorreu gabinetes em Brasília, inclusive o do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, atrás de parcerias para projetos municipais. O governador foi padrinho da aproximação entre Lula e o prefeito eleito, em outros tempos adversário ferrenho do governo petista.

O prefeito eleito também discorda da posição de "filhote" de Cabral. Em entrevista ao GLOBO, na semana passada, disse que não é "tutelável", por ter temperamento forte, e que também não percebe no aliado a tentativa de tutelá-lo.