Título: Pólos produtivos: encomenda cai até 50%
Autor: Doca, Geralda
Fonte: O Globo, 03/11/2008, Economia, p. 14

Preços de matérias-primas importadas sobem 12% e demissões já começaram.

As micro e pequenas empresas, reunidas em pólos produtivos pelo país, já sofrem com a crise global. Diante da alta de juros e da valorização do dólar, muitas firmas adiaram a compra de máquinas, suspenderam contratação para o fim do ano e cancelaram horas extras. Houve casos em que encomendas caíram até 50% neste fim de ano. A retração veio junto com demissões e alta média de 12% nas matérias-primas importadas.

Segundo o Ministério do Desenvolvimento, há 264 Arranjos Produtivos Locais (APLs) no país, reunindo quase 190 mil empresas que geram 2,822 milhões de empregos formais e informais. O economista José Cezar Castanhar, da Fundação Getulio Vargas (FGV), estima que o faturamento delas é de R$200 bilhões por ano.

Vestuário, calçados, móveis e bebidas vêm sofrendo mais que segmentos do agronegócio. Para Rita Simpson, coordenadora do Pólo de Calçados e Acessórios do Rio, os seus clientes estão apavorados, com medo de comprar e não conseguir vender. Rita, que tem uma fábrica e comanda a grife Taoolee, diz que as encomendas este ano estão 50% menores em relação a 2007:

- Em outubro de 2007, eu tinha mercadoria vendida até fevereiro. Este ano, não vendi quase nada de dezembro. Tenho conversado com representantes de pólos de Novo Hamburgo (RS) e de Franca (SP), e a situação é a mesma.

Sem oferta de empréstimo dos bancos para a antecipação do 13º salário

Rita lembra que este ano nenhuma instituição financeira lhe ofereceu crédito para antecipar o décimo terceiro salário:

- Ano passado, todos estavam atrás de mim e ajoelhados aos meus pés. Este ano, é só desculpas. E eu estou precisando. Com vendas menores, este ano não tem hora extra nem contratações de fim de ano. Pelo contrário, tive de cortar algumas pessoas por causa da crise.

Segundo Delcindo Mascena, diretor Comercial do Pólo de Confecções de Natal, no Rio Grande do Norte, a saída é apostar "na moda" para superar a alta entre 10% e 12% de tecidos e de aviamentos (botões e linhas).

- Apostamos em itens de maior valor agregado para estimular as vendas.

Segundo Castanhar, da FGV, o governo deve criar mecanismos para as pequenas empresas, assim como fez para o setor de construção:

- É preciso menos burocracia e impostos.

No APL de Móveis e Artefatos de Madeira em Rondon do Pará, na Região Norte, já houve queda nos pedidos de exportações de clientes da Europa e dos Estados Unidos. Para Fidelis Paixão, coordenador do pólo, os compradores dos países que estão em recessão encomendaram 50% menos para 2009 em relação a este ano.

- A demissão será o principal reflexo desta crise. Hoje, já sofremos com a alta nos juros. Fixamos uma taxa com os nossos clientes e, ao pegar o crédito no banco, o custo é maior.

Em Friburgo, fornecedores repassam alta do dólar e confecções seguram contratação

Segundo Carlos Leker, diretor do pólo de Moda Íntima de Nova Friburgo, no Rio, os fornecedores já começaram a aumentar o preço dos tecidos devido à alta da moeda americana:

- Este mês, cerca de 90% dos fornecedores vão repassar a alta do dólar. E quem não tem crédito, não tem jeito. Está pagando mais caro.

No pólo, grande parte das 954 confecções está evitando contratar. E os investimento ficaram parados, diz o executivo. Segundo Leker, até as linhas de crédito voltadas exclusivamente para os pólos estão mais seletivas:

- As empresas não têm geração de caixa. Elas precisam de dinheiro para as encomendas. A empresa em que trabalho havia contratado 30 funcionários para o fim deste ano, mas foi antes da crise. Se for preciso, terei de dispensá-los.

Para Carlos Paviani, diretor do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), que congrega o APL de vitivinicultura de cidades do Rio Grande do Sul, o aumento do dólar ajuda as exportações, mas depois encarece as matérias-primas.

Segundo Gilberto Braga, economista do Ibmec-RJ, as pequenas empresas dão seu fluxo de caixa como garantia a seus empréstimos, comprometendo ainda mais suas margens:

- Só o governo pode mudar esse cenário.

PORTUGAL VAI ESTATIZAR BANCO E INJETAR 4 BILHÕES NO SETOR, na página 15

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