Título: Quadrilha dos Correios atuava também no Incra
Autor: Lima, Maria
Fonte: O Globo, 04/11/2008, O País, p. 4
PF descobre que empresa de informática se beneficiou de fraudes no órgão e na estatal.
BRASÍLIA. Integrantes da organização acusada de manipular contratos de agências franqueadas dos Correios também são suspeitos de fraudar licitações do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Pelos cálculos da Operação Déjà Vu, da Polícia Federal, o grupo desviou cerca de R$30 milhões na compra de equipamentos de informática pelo Incra. Ontem, a PF pediu a renovação da prisão temporária do diretor Comercial dos Correios, Samir de Castro Hatem, e de mais 16 servidores públicos, lobistas e empresários acusados de envolvimento nas irregularidades.
A polícia começou a investigação a partir de denúncia sobre desvios de grandes contratos dos Correios para agências franqueadas, pequenas empresas privadas associadas à estatal em Sorocaba (SP). Mas os policiais encontraram fortes indícios de fraudes no Incra. Havia indicativos de que compras de equipamentos de informática estariam sendo direcionadas para a Lan Professional.
Dois dos sócios da empresa, Adriano Barcelos e Marco Pingue, estão entre os 15 presos da operação da PF, semana passada. Segundo a PF, servidores do Incra e dos Correios acertavam previamente as exigências nas aquisições de computadores e outros equipamentos. Num dos casos, um servidor enviou a um dos empresários e-mail com a cópia de um dos editais. O empresário modificou trechos e despachou a mensagem de volta. A polícia descobriu que as alterações sugeridas constavam no edital de licitação. As acusações estão amparadas em e-mails interceptados.
Procurado pelo GLOBO, por meio da assessoria de imprensa, o presidente do Incra, Rolf Hackbart, disse que já pediu informações à Justiça para adotar as providências necessárias e alegou que todos os processos foram realizados de acordo com a lei e os contratos auditados pelos órgãos de controle interno. O presidente dos Correios, Carlos Henrique Almeida Custódio, disse que só decidirá o que fazer após ter acesso às acusações contra servidores da empresa.
Um dos principais acusados é Samir Hatem, preso quinta-feira passada. A PF suspeita que ele comandava negociações para transferir grandes contratos das agências estatais dos Correios para as franqueadas. Segundo a PF, só num dos contratos que Samir ajudou a transferir o grupo obteve lucro líquido de R$2 milhões. O contrato era de cerca de R$12 milhões. O diretor Comercial dos Correios foi indicado pelo senador Romero Jucá (PMDB-RR), líder do governo no Senado. Jucá disse, na sexta-feira passada, que iria esperar a conclusão das investigações.