Título: Réu do mensalão, João Paulo (PT) ganha a relatoria da MP dos bancos
Autor: Lima, Maria
Fonte: O Globo, 04/11/2008, O País, p. 4
PT tenta reabilitar envolvidos no escândalo; indicação já causa polêmica.
BRASÍLIA. Fugindo dos holofotes desde que foi revelado como um dos 40 integrantes da quadrilha do mensalão do PT, o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP) está sendo reabilitado politicamente pela base governista, com o respaldo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP). Ele teve seu nome ratificado por Chinaglia como relator da MP 443, a mais importante do pacote anti-crise, que permite aos bancos oficiais comprar bancos menores que estejam em dificuldade.
Inocentado pelo plenário da Câmara, João Paulo é réu na ação penal instaurada pelo Supremo Tribunal Federal pelos crimes de peculato, corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Ontem, ele passou o dia em reuniões no Ministério da Fazenda e na Caixa Econômica Federal.
A tentativa de reabilitação de João Paulo segue estratégia que já incluiu o ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci (PT-SP), que renunciou após o escândalo da quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa. Pallocci foi indicado como presidente da Comissão Especial da reforma tributária. Com ele, assumiu a relatoria da reforma o deputado Sandro Mabel (PR-GO), também envolvido no escândalo do mensalão, mas absolvido pela Câmara.
A indicação causa polêmica. O senador Demóstenes Torres (DEM-GO) diz que a escolha leva desconfiança para o resultado das articulações, porque a MP mexe com interesses de construtoras e bancos:
- O governo tenta buscar de volta seus mortos, dando um péssimo exemplo. Isso vai demandar uma atenção mais apurada do Senado quando essa MP for para lá.
Segundo a assessoria de Chinaglia, o cargo coube ao PT, no esquema de rodízio de distribuição das relatorias, mas não explicou por que a escolha recaiu sobre João Paulo, que não é especialista em economia. O deputado Júlio Delgado (PSB-MG), relator do processo contra o ex-deputado José Dirceu no Conselho de Ética, diz que os governistas esperam, com isso, que esses casos sejam esquecidos:
- Essas pessoas todas estão tentando se ajeitar de novo. Além do Palocci, tem o Berzoini, no caso dos aloprados, que também voltou para o comando do PT. Todo mundo levantando a crista de novo.