Título: Transportadoras: investimento, já insuficiente, pode encolher com crise
Autor: Galhardo, Ricardo
Fonte: O Globo, 06/11/2008, O País, p. 4
Falta de conservação de rodovias dá prejuízo de R$20 bilhões anuais.
SÃO PAULO. O presidente da Associação Brasileira de Transporte de Carga, Newton Gibson, disse ontem que o investimento para conservação das estradas federais é insuficiente e que a situação pode se agravar com a crise financeira global. Segundo ele, a situação da BR-235, bloqueada há quatro dias na Bahia, nem de longe é isolada e reflete a situação caótica geral:
- Quando anunciaram o PAC, todo mundo ficou eufórico. Pensamos que viriam investimentos adicionais. Depois, vimos que o dinheiro é só aquele mesmo do orçamento, e ninguém sabe o que vai acontecer com esta crise.
Segundo Gibson, o andamento das obras é moroso:
- Na BR-101, parece que está tudo em câmera lenta. Com o PAC pensamos que finalmente a Transamazônica seria melhorada, mas está muito devagar.
Para Gibson, o prejuízo, além de ser sentido pelas empresas, é também do governo:
- Os motoristas ficam sujeitos ao roubo de cargas porque não podem andar na velocidade normal, mas o maior problema são os acidentes. Isso acaba batendo no próprio governo, que vai ter mais gastos com o SUS e a Previdência.
Em 2006, o Brasil gastou R$22 bilhões com acidentes. O prejuízo anual para a economia brasileira causado pela má conservação das estradas, segundo o Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação em Administração de Empresas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppead-UFRJ), é de R$20 bilhões.
Segundo o pesquisador Maurício Lima, do Instituto de Logística e Supply Chain (Ilos), o PAC é tímido em obras viárias e deficiente na execução e liberação de verbas. Lima cita dados de uma pesquisa do Centro de Estudos de Logística (CEL) segundo a qual o total de obras rodoviárias previstas no PAC entre 2007 e 2010, cerca de 45 mil quilômetros, representa 2,8% do total de rodovias brasileiras.
Segundo o estudo da CNT, 67,6% das estradas privatizadas estão em situação boa ou ótima. O índice é de apenas 18,8% nas estatais. Para Lima, isso indica que a privatização é a solução do governo para o problema.
- Mas é insuficiente. A iniciativa privada só vai se interessar pelo filé. Ninguém vai querer as estradas com pouco movimento. Nestas, é necessário investimento público - afirmou.