Título: Aécio e Serra: dois estilos, um mesmo objetivo
Autor: Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 06/11/2008, O País, p. 11

Em visita ao Congresso, governador mineiro faz discurso empolgado, enquanto o paulista evita declarações políticas.

BRASÍLIA. Com o mesmo objetivo em mente, o de conquistar a vaga de candidato do PSDB à Presidência da República em 2010, mas com estilos diferentes, os dois pré-candidatos tucanos à sucessão do presidente Lula estiveram ontem à tarde no Congresso. O governador de Minas, Aécio Neves, chegou primeiro e não disfarçou sua condição de candidato a candidato: fez discurso empolgado para a bancada tucana na Câmara, conversou com os presidentes das duas Casas do Legislativo, encontrou-se com dirigentes do PMDB e cumprimentava todo mundo que via pela frente.

Já Serra optou pela discrição: chegou pela garagem do Senado e deu preferência às conversas com os tucanos, embora tenha se encontrado, por acaso, com o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), seu candidato derrotado a prefeito do Rio.

Antes de ir para o Congresso, Aécio teve encontro reservado com o presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), e o líder da bancada peemedebista, deputado Henrique Eduardo Alves (RN). Temer não só reiterou o interesse do PMDB em ter o governador mineiro no partido, como pediu sua interferência junto à bancada tucana da Câmara em favor de sua candidatura à presidência da Casa.

No discurso na liderança do PSDB na Câmara, diante de uma platéia que se espremia para ouvi-lo, e nas inúmeras entrevistas no Congresso, Aécio deixou claro que seu interesse maior é o de permanecer no PSDB, onde adianta que não aceitará a idéia defendida pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso de compor uma chapa com Serra.

- O PSDB saiu das eleições deste ano como principal alternativa de poder e pólo aglutinador da oposição. Nossas chances (para 2010) são enormes, se tivermos juízo e também desprendimento. Antes de qualquer definição, temos de ter um projeto para o país, uma bandeira nova, sem personalismo. Mas é claro que esse projeto passa pela nossa unidade - discursou.

Diante do clima de campanha, Aécio não hesitou em criticar duramente os tropeços do governo Lula no campo ético e condenou o aumento dos gastos do Executivo, especialmente com a criação, só este ano, de 85 mil cargos. E acrescentou:

- A vitória do PSDB é vital para o país. Não podemos ter mais quatro ou oito anos do que está aí.

Quando Aécio iniciou seu périplo pelo Senado, onde conversaria com o presidente da Casa, Garibaldi Alves (PMDB-RN), foi discretamente avisado que Serra acabara de pedir também uma audiência. O governador paulista, porém, acabou mudando de trajeto. Passou primeiro no Ministério da Defesa e, só depois, foi ao Senado. Mas, em vez de ir ao encontro de Garibaldi, parou no gabinete do presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), e com isso acabou evitando o encontro com Aécio.

Serra saiu do gabinete de Guerra sem querer falar de política. Limitou-se a elogiar a aprovação ontem de um projeto de lei que regulamenta a videoconferência para interrogatório de réus presos. Depois, fez quase o mesmo percurso de Aécio: reuniu-se com o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), e com os deputados tucanos.