Título: Pacificador da PF enfrenta nova turbulência
Autor: Carvalho,Jailton de
Fonte: O Globo, 08/11/2008, O país, p. 8

CRISE DA PF: Veteranos não se conformam com a ascensão de jovens delegados aos principais postos de chefia

Divergências sobre operações desafiam Luiz Fernando Corrêa, que assumiu instituição há 15 meses para contornar racha

Jailton de Carvalho

BRASÍLIA. A PF vive um dos momentos de maior turbulência desde que o ex-secretário nacional de Segurança Pública Luiz Fernando Corrêa assumiu o comando da instituição, em agosto do ano passado. As divergências se tornaram mais evidentes depois das operações Satiagraha e Toques de Midas, investigações sobre supostos crimes do banqueiro Daniel Dantas e do empresário Eike Batista, em julho. Desde então, têm sido comuns choques devido ao afastamento do delegado Protógenes Queiroz da coordenação da Satiagraha, e à reprimenda ao superintendente no Amapá, Anderson Rui Oliveira, um dos responsáveis pela Toque de Midas.

Existe forte tensão entre delegados da velha e da nova geração. Veteranos não se conformam com a ascensão de jovens delegados aos principais postos de chefia promovida por Corrêa. O clima ficou ainda mais tenso depois que Corrêa e o diretor afastado da Agência Brasileira de Inteligência, Paulo Lacerda, passaram a se desentender sobre as atribuições da Abin, antes mesmo da participação de arapongas na Satiagraha.

- Quando Corrêa chegou com a turma dele já pronta para assumir a direção da PF foi uma espécie de ultimato aos mais antigos. A velha geração foi alijada. Os delegados antigos estão nos corredores. Os novinhos estão mandando. Essa é a verdadeira ruptura - diz um delegado.

Depois de uma bem-sucedida passagem pela Secretaria Nacional de Segurança Pública, Corrêa foi alçado à direção da PF com pelo menos dois objetivos: pacificar os grupos internos e reduzir o impacto das grandes operações, sobretudo no noticiário das TVs, fonte permanente de pressão de diversos setores contra o governo.

Naquele momento, a PF estava rachada entre os aliados do diretor-executivo Zulmar Pimentel e o diretor de Inteligência Renato da Porciúncula, dois dos principais postulantes ao cargo do ex-diretor Paulo Lacerda.

Numa manobra política surpreendente, Corrêa exonerou todos os diretores, superintendentes e chefes setoriais. Foi a maior renovação de quadros de chefia da PF. Para tirar qualquer conotação política das substituições, ele promoveu todas as pessoas que, por idade ou hierarquia, estavam mais próximas dos cargos de comando.

Fogo amigo nas operações Satiagraha e Toque de Midas

Protógenes se desentendeu com os chefes Daniel Lorenz, Paulo Tarso Teixeira e o próprio Corrêa. Recusava-se a informar os principais passos da Satiagraha quando pedia recursos e apoio material à operação. O resultado foi uma investigação sobre vazamento de informações e o afastamento de Protógenes. A disputa foi reaberta quarta-feira, quando o delegado Amaro Vieira, da Corregedoria Geral, fez buscas na casa de Protógenes, um ato sem precedentes em investigações sobre vazamento.

O fogo amigo queima também em torno da Toque de Midas, que já resultou no afastamento do diretor-executivo Romero Menezes, segundo na hierarquia da PF, preso e acusado de vazar informações para beneficiar Eike Batista. Corrêa e outros diretores da PF consideraram exagero o pedido de prisão de Romero e manifestaram insatisfação com o superintendente da instituição, Rui Oliveira, que deverá ser exonerado do cargo.

Corrêa conseguiu reduzir os impactos da operações com a proibição de divulgação de imagens de presos, sobretudo algemados. No passado, em meio a crises envolvendo a cúpula da PF, o governo interveio na instituição. No governo Itamar, o diretor e o secretário da PF que dividiam o comando foram demitidos depois de desentendimentos públicos. Itamar nomeou o coronel Wilson Romão para comandar a PF. No governo Fernando Henrique, por ordem do Planalto delegados envolvidos na Operação Lunus, empresa do marido da senadora Roseana Sarney (PMDB-MA), foram afastados após acusações de ingerência política na investigação.

O corregedor-geral da PF, José Lobato, nega que a PF esteja vivendo um clima de indisciplina. Segundo ele, cada delegado deve agir de acordo com a lei e, se transgredir as normas, está sujeito a responder por isso. O ministro Tarso Genro também nega haver crise de comando na PF. Para o ministro, surgiram alguns problemas, que estão sendo devidamente resolvidos:

- Divergências internas não significam falta de comando.