Título: Arquivos bloqueados travam investigação da PF
Autor: Aggege, Soraya
Fonte: O Globo, 14/11/2008, O País, p. 8

Senhas criptografadas nos computadores atrapalham apuração de crimes atribuídos ao banqueiro Daniel Dantas

Soraya Aggege

SÃO PAULO e BRASÍLIA. Parte estratégica do material apreendido do Opportunity e do banqueiro Daniel Dantas, na Operação Satiagraha, está sendo considerada "indevassável" pelas autoridades que atuam no caso. O acesso aos discos rígidos e documentos apreendidos nos computadores do banqueiro depende de senhas, que estão todas criptografadas. Cada senha teria cerca de um bilhão de combinações possíveis, já avisaram os peritos da PF.

Mesmo assim, sem parte importante das possíveis provas, o primeiro relatório da Satiagraha desenvolvido após o afastamento do delegado Protógenes Queiroz, e que deverá embasar processo por lavagem de dinheiro, crime financeiro e outros supostos delitos do banqueiro, já foi concluído pelo delegado Ricardo Saadi. O documento não contradiz os relatórios produzidos por Protógenes, apesar dos argumentos da própria PF, que conduz outro inquérito para investigar vazamento de informações e até a produção de provas ilegais na Satiagraha:

- Não houve "refazimento" do trabalho do delegado Protógenes em nenhum momento. Foi feito um aprofundamento do relatório anterior. Já mandamos inclusive avisar isso ao ministro (Tarso Genro, da Justiça) - disse ao GLOBO uma das autoridades que atuam no caso.

O procurador da República Rodrigo De Grandis recebeu o relatório na última sexta-feira. O GLOBO apurou que já há indícios para a denúncia de lavagem de dinheiro (pena de três a 10 anos de detenção, caso Dantas seja condenado), mas a falta de acesso aos discos rígidos ainda fragiliza a denúncia por crimes financeiros (três a 12 anos de prisão) e formação de quadrilha (um a três anos de detenção). Por isso, o MPF poderá apresentar as denúncias separadamente, mas ainda não definiu sua estratégia final no processo.

As autoridades que atuam na Satiagraha estão tentando agilizar as denúncias, para tentar barrar a suposta estratégia da defesa. Elas avaliam que Dantas quer ganhar tempo para que os procedimentos sejam julgados no recesso do Judiciário.

Ao mesmo tempo, o banqueiro tenta, por meio de pelo menos três de um total de 30 pedidos de habeas corpus preventivos, suspender o processo de corrupção alegando sua nulidade. Para a defesa de Dantas, a participação de agentes da Abin nas investigações anularia provas obtidas por eles, que seriam, segundo a defesa, ilegais. Também tenta suspender o inquérito de lavagem e crime financeiro. O último pedido foi apresentado na última segunda-feira, como O GLOBO adiantou.

Além dos 30 habeas corpus que chegaram às três instâncias da Justiça, Dantas tenta ainda duas suspeições do juiz Fausto de Sanctis, da 6ª Vara Federal Criminal de São Paulo, responsável pela prisão do banqueiro. Uma delas alega que ele está comprometido; e outra que o caso só poderia ser julgado no Rio, domicílio de Dantas. A suspeição do juiz pode ser julgada na próxima segunda-feira.

Equipe da Abin acompanhará perícias

Em meio à crise entre a PF e a Agência Brasileira de Inteligência provocada pelo uso de agentes da Abin na Satiagraha, o ministro do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência República, general Jorge Armando Félix, esteve ontem na Abin. Em nota, o GSI afirmou que a Abin indicará uma equipe para acompanhar as perícias nos computadores apreendidos pela PF.

COLABOROU Demétrio Weber